Filha do primeiro-ministro francês acusa padre de a espancar quando tinha 14 anos
A filha do primeiro-ministro francês François Bayrou tornou-se, esta quarta-feira, a mais recente pessoa a acusar o clero que dirige uma escola nos Pirenéus de abusos sistémicos, incluindo enquanto o pai era autoridade local, dizendo que um padre a espancou durante um campo de férias quando tinha 14 anos.
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Várias acusações de abuso sexual e físico no internato Notre-Dame de Bétharram lançaram uma sombra sobre o mandato de Bayrou, a mais recente em décadas de queixas deste tipo contra membros de instituições católicas em todo o Mundo. Vários dos seus seis filhos frequentaram a escola católica, onde a mulher também lecionava estudos religiosos.
Bayrou foi acusado de saber de algumas das acusações já na década de 1990, como ministro da educação e como autoridade local, alegações que negou. Por sua vez, também a filha mais velha do primeiro-ministro francês, Helen Perlant, que tem agora 53 anos e usa o nome da mãe, disse que o pai não sabia do incidente.
Segundo Helen Perlant, um padre espancou-se em frente aos colegas durante um campo de férias no início dos anos 80. "Uma noite, quando estávamos a desempacotar os nossos sacos-cama, o padre Lartiguet agarrou-me de repente pelos cabelos, arrastou-me pelo chão por vários metros e deu-me murros e pontapés por todo o corpo, especialmente na barriga", contou, segundo a revista "Paris Match". "Urinei e fiquei assim a noite toda, húmida e enrolada como uma bola no meu saco-cama", contou.
No dia seguinte, participou numa caminhada com o resto do grupo, "com o corpo todo ferido", mas determinada a mostrar ao padre que a acusou de ser "rude como o pai" que não era uma vítima. "O Bétharram estava organizado como uma seita ou um regime totalitário, exercendo pressão psicológica sobre os alunos e os professores para que permanecessem em silêncio", expôs.
"Estive em silêncio sobre isto durante 30 anos", disse Perlant. "Talvez inconscientemente quisesse proteger o meu pai dos golpes políticos que estava a receber localmente. Ele não sabe que sou uma vítima".
Bayrou confirmou, na tarde de quarta-feira, que a filha nunca lhe contou sobre a agressão. "Como pai, apunhala-me no coração", disse o primeiro-ministro francês à imprensa, acrescentando que, como funcionário público, está a "pensar em todas as vítimas". "Não os quero abandonar", assegurou.
No total, foram registadas 200 queixas legais desde fevereiro do ano passado que acusam padres e funcionários de Bétharram de abuso físico ou sexual entre 1957 e 2004, de acordo com uma associação de vítimas. Noventa destas queixas dizem respeito a violência sexual, incluindo uma que alega violação coletiva cometida por dois padres. No entanto, apenas duas queixas resultaram até agora em acusações contra um antigo supervisor por alegada agressão sexual de um menor em 2004 e violação de um menor de 1991 a 1994. Todas as outras acusações já prescreveram.
Inquérito parlamentar
Bayrou deverá ser interrogado por um inquérito parlamentar sobre as acusações a 14 de maio. Um ex-polícia disse, durante o inquérito, no início deste mês, que lhe foi dito que Bayrou, então autoridade local, tinha "intervindo" em 1998 no caso de um padre e ex-diretor da escola acusado de ter violado um rapaz de dez anos uma década antes. O homem foi libertado e encontrado morto dois anos depois no rio Tibre, em Roma. Bayrou negou ter intervindo no caso.
Em 1996, quando era ministro da educação, os pais de um aluno da escola apresentaram queixa depois de um supervisor escolar ter dado uma bofetada tão forte ao rapaz que este perdeu a audição de um ouvido. O supervisor da escola Notre-Dame de Bétharram foi considerado culpado.
A entrevista de Perlant foi publicada antes do lançamento, na quinta-feira, de um livro que conta as histórias de antigos alunos da escola.