O narcotraficante mexicano Ovidio Guzman, filho de Joaquin "El Chapo", declarou-se esta sexta-feira culpado de quatro acusações de tráfico de drogas perante um tribunal de Chicago, evitando o julgamento.
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Vestido com um macacão prisional laranja e com algemas nos pés, Guzman, de 35 anos, apareceu com barba e óculos, uma imagem diferente daquela por que era conhecido, e adotou um ar humilde enquanto ouvia, através de auscultadores, as perguntas da juíza Sharon Coleman.
A acusação incluiu tráfico de múltiplas drogas (incluindo fentanil) e participação em crime organizado, de acordo com as acusações que foram lidas pela juíza e às quais Guzman respondeu afirmativamente.
Sharon Coleman irá determinar a sua sentença dentro de seis meses, e espera-se que Guzman evite a prisão perpétua se concordar em cooperar com a justiça.
No entanto, o procurador disse que pedirá uma pena inferior à perpétua, desde que Guzman "cumpra" aquilo a que se comprometeu, ou seja - embora não o tenha dito explicitamente - dê informações suficientes à justiça norte-americana para continuar a perseguir o tráfico de droga.
Guzman usou da palavra para dizer que sofre de depressão, diagnosticada em outubro passado, e que por isso está a tomar medicação, e esclareceu que ninguém o obrigou a declarar-se culpado.
Na sua declaração, a acusação sublinhou que Guzman era "o líder de um cartel" (de Sinaloa), que tinha estado envolvido em branqueamento de capitais e que tinha sido responsável pelo rapto e morte de três pessoas, o que não foi negado pelo arguido, que ouviu atentamente.
A acusação também pediu a Guzman que pague uma multa de 80 milhões de dólares (68,4 milhões de euros), mas tanto o montante da multa como a pena final de prisão serão fixados pelo juiz Coleman.
Guzmán López, 35 anos, conhecido como "el Ratón", declarou-se inicialmente inocente, mas mudou de ideias depois de chegar a um acordo com o Ministério Público, que deverá resultar numa pena reduzida em troca de informações privilegiadas sobre o Cartel de Sinaloa e a corrupção no México.
De acordo com Vanda Felbab-Brown, investigadora da Brookings, este acordo com a acusação "era expetável".
Para Ovidio, a alternativa era o destino do seu pai: passar o resto da vida em condições muito difíceis numa prisão de segurança máxima no Colorado, enquanto os traficantes de drogas que se declararam culpados das acusações enfrentaram sentenças muito menores, disse à agência de notícia espanhola EFE a diretora do The Fentanyl Epidemic in North America and the Global Reach of Synthetic Opioids no Brookings.
"El Ratón", um apelido que 'Chapito' fez seu ao ponto de usar o símbolo do Mickey Mouse nos seus perfis sociais, alcançou fama internacional após o "Culiacanazo" ou Batalha de Culiacán em 17 de outubro de 2019, quando foi preso pela primeira vez como parte da liderança do Cartel de Sinaloa.
Após a sua detenção pelas mãos dos militares de elite, a cidade de Culiacán, em Sinaloa, tornou-se um campo de batalha onde vários militares foram feitos reféns por "Los Chapitos" - um grupo formado por quatro dos filhos de Chapo. À detenção seguiu-se uma onda de disparos de armas automáticas nas ruas e o incêndio de veículos, o que levou o então presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, a libertar Guzmán López.
Em dezembro de 2021, e perante a aparente ascensão de Ovidio, Washington ofereceu cinco milhões de dólares por troca de informações que facilitassem a detenção ou condenação de Guzmán López e dos seus irmãos.
Os EUA notaram mesmo que "el Ratón" ordenou o assassinato de uma "popular cantora mexicana", que se recusou a assistir ao seu casamento e, desde 2012, o governo americano incluiu-o na lista de traficantes internacionais de droga "Kingpin Act" por desempenhar "um papel significativo nas atividades do seu pai".
De acordo com Felbab-Brown, Guzmán López foi uma figura crucial no "desenvolvimento do mercado do fentanil nos Estados Unidos".
De acordo com o Departamento de Justiça, Guzmán López e o seu irmão Joaquin - que também se encontra numa prisão dos EUA e que deverá declarar-se culpado na próxima semana - supervisionavam 11 laboratórios de metanfetaminas em Sinaloa, onde produziam cerca de 5000 libras ou 2267 quilos de metanfetaminas por mês, que eram vendidas principalmente a outros membros do Cartel de Sinaloa.