A nova primeira-ministra finlandesa é a mais nova chefe de Governo do mundo. Tem em mãos salvar a coligação de cinco partidos liderados por mulheres contra a subida da extrema-direita.
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Filha de uma família "arco-íris", com uma mãe solteira que assumiu uma relação homossexual, diz que nunca pensou nem na idade, tenra, nem no género, mulher. Sanna Marin, 34 anos, deve tornar-se hoje a recordista mundial da juventude numa chefia de Governo. No caso, o da Finlândia, que arrebatou depois de o ex-ocupante e líder do seu Partido Social-Democrata (SPD, esquerda), Antti Rinne, ter desistido para salvar a coligação de centro-esquerda no poder há escassos meses, quando das sondagens espreita a subida da extrema-direita.
A história de Sanna Marin até Pai Natal mete. Rinne, guru do sindicalismo e estandarte da ala esquerda do SPD, caiu porque o parceiro de coligação centrista, Partido do Centro, o encostou à parede.
Em causa, uma greve prolongada dos funcionários dos Correios finlandeses (Posti), resolvida em finais de novembro, in extremis, na pátria onde 30 mil cartas diárias são endereçadas à Lapónia. Contestava-se a transferência de 700 funcionários para um contrato coletivo desfavorável, que lhes reduziria o salário em troca de prémios de produtividade a partir de 2022.
O plano foi anulado depois de outros setores entrarem em greve solidária, Rinne assegurou que não fora ideia dele, como já fizera a ministra da Administração Pública, e que a Posti agira por auto-recreação, foi desmentido pela administração da empresa pública, demitiu a ministra, manteve a posição contra "o shopping dos contratos coletivos" e "o dumping salarial" nos correios e perdeu a confiança do Partido do Centro. Perante uma moção de censura que conduziria a novas eleições provavelmente ganhas pelos Verdadeiros Finlandeses (24% nas sondagens), a extrema-direita que ficara em segundo posto nas eleições de abril, Rinne preferiu demitir-se e dar o lugar a outro nome do apagado SPD (13%).
Sete anos de política
Anteontem, o tapete seria estendido para Sanna Marin. Mãe de uma menina de 22 meses, primeiro elemento da família a frequentar a universidade, formada em Ciências Administrativas, estreada na política como autarca em 2012, vice-presidente do SPD desde 2014 e deputada desde 2015, Sanna era até agora ministra dos Transportes e Comunicações.
"Nunca pensei na minha idade ou no meu género, penso nas razões pelas quais me envolvi na política e nessas coisas graças às quais ganhámos a confiança do eleitorado", disse ela, anteontem, anunciando "muito trabalho para restabelecer" essa confiança. Objetivo: manter o programa de Governo da coligação e a promessa do fim da austeridade que limpou a dívida mas arruinou a população.
A seu lado, terá os mesmos quatro partidos - o do Centro, a Liga Verde, a Aliança de Esquerda e o Popular Sueco (que representante os falantes suecos na Finlândia) - e as suas quatro líderes, respetivamente, Katri Kulmuni (32 anos), Maria Ohisalo (34), Li Andersson (32) e Anna-Maja Henriksson (55). "O meu partido não está no Governo, mas regozijo-me que os líderes dos cinco partidos no Governo sejam mulheres", escreveu ontem Alexander Stubb, antigo primeiro-ministro pelo Partido Coligação Nacional.