Há vários anos que algumas cidades de França e da Bélgica distribuem galinhas gratuitas, de forma a evitar o desperdício alimentar. Os animais são alimentados com resíduos biológicos e fornecem ovos às pessoas.
Corpo do artigo
O projeto foi lançado em 2015 na cidade francesa de Colmar, pelo departamento de recolha de resíduos local, segundo recorda a BBC, com o objetivo de reduzir o desperdício alimentar. A ideia rapidamente se espalhou por outros municípios, com mais de 200 famílias a inscreverem-se e a receberem duas galinhas.
Os agregados familiares têm de se comprometer a criar as galinhas, sendo que o departamento de resíduos vai controlando o bem-estar dos animais. Os galinheiros ficam à responsabilidade de cada família, mas é assegurado que as casas têm espaço suficiente, entre 8 a 10 metros quadrados.
A distribuição das galinhas permite evitar o despejo de resíduos alimentares em aterros, dado que os animais comem restos que, de outra forma, seriam deitados fora, e os participantes têm direito a um fornecimento de ovos duradouro.
O projeto foi considerado um sucesso e continua a gerar interesse nos dias que correm. Até à data, foram distribuídas 5282 galinhas e já estão abertas as candidaturas para a próxima ronda de distribuição, que vai acontecer em junho.
"Ao longo dos anos, outros municípios aderiram e, desde 2022, todos os 20 municípios da aglomeração participam", afirma Eric Straumann, atual presidente da Aglomeração de Colmar (cargo equivalente a presidênde da Câmara). “Considerando que uma galinha tem uma esperança média de vida de quatro anos e que consome 150 gramas de resíduos biológicos por dia, calculamos que evitámos 273,35 toneladas de resíduos biológicos [desde 2015]”, acrescenta.
O autarca local realça ainda que "as galinhas permitem promover práticas tradicionais de economia circular que ainda hoje são relevantes, em particular nas aldeias, e que estão agora a desenvolver-se mesmo nas zonas urbanas: as galinhas alimentadas com os nossos resíduos alimentares fornecem-nos, em troca, ovos frescos".
Bélgica também distribui galinhas
A distribuição de aves não acontece apenas em Colmar. A ideia foi originalmente testada em Picé, França, em 2012. "No início era uma brincadeira, mas depois percebemos que era uma ideia muito boa", admitiu Lydie Pasteau, presidente da Câmara de Pincé, aos meios de comunicação locais na altura. No total, 31 famílias receberam galinhas, juntamente com um saco de ração, tendo Pasteau considerado o projeto um sucesso “surpreendente”.
Já nas cidades de Mouscron e de Antuérpia e na província de Limburgo, na Bélgica, os residentes também têm direito a galinhas gratuitas. A única diferença é que têm de assinar um acordo onde garantem que não vão comer os animais durante dois anos. Em apenas um ano, mais de 2500 famílias adotaram galinhas no Limburgo, enquanto em Mouscron foram distribuídos 50 pares de galinhas.
Resíduos alimentares contribuem para aquecimento global
Os resíduos alimentares contribuem com mais emissões de metano para a atmosfera do que outros materiais depositados em aterros, devido à sua rápida taxa de decomposição. Embora dure menos tempo na atmosfera do que o dióxido de carbono (CO2), o metano tem um impacto no aquecimento global mais de 80 vezes superior ao do CO2.
Cerca de um terço da comida para consumo humano no Mundo é desperdiçada, o que equivale a 1,3 mil milhões de toneladas por ano. A perda e o desperdício de alimentos são responsáveis por 8 a 10% das emissões globais anuais de gases com efeito de estufa - o que representa quase cinco vezes o total de emissões do setor da aviação.
O projeto da distribuição de galinhas parece ter sucesso e pode ser aplicado em países onde os ovos são escassos ou muito caros. Nos EUA, por exemplo, uma dúzia de ovos custa cerca de 9 dólares (8,30 euros). Com algumas galinhas a pôr até 300 ovos por ano, uma destas aves pode significar uma poupança de 225 dólares (208 euros) em ovos por ano.
Nos últimos anos, os norte-americanos têm sofrido com o aumento do preço dos ovos, o que tem feito aumentar a procura por alternativas a estas flutuações, como alugar ou ter galinhas. A "Rent the Chicken", uma empresa fundada em 2013 nos arredores de Pittsburgh, na Pensilvânia, oferece aos seus clientes a opção de alugar duas a quatro aves para as suas casas, para que possam ter ovos frescos todos os dias, ou seja, sem sofrer com as alterações de preço.