As forças de segurança francesas prestaram esta terça-feira homenagem aos polícias mortos nos atentados da semana passada em Paris e denunciam a existência de "falhas nos serviços de informação" e "falta de meios nas forças policiais".
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Polícias de toda a França, sobretudo da região de Paris, concentraram-se em frente ao ecrã gigante na Praça Louis Lépine, junto ao Tribunal de Justiça e ao lado da "Préfécture de Paris" - a sede dos serviços administrativos da Polícia - na Île de la Cité, em pleno centro da capital francesa.
Não muito longe, os sinos da catedral de Notre-Dame assinalaram as 11 horas locais e o silêncio impôs-se espontaneamente - durante uma hora - no seio da multidão que assistia às imagens em direto da homenagem de Estado que decorria a alguns metros.
Um luto coletivo "contra a barbárie", explicava minutos antes Gael Fabiano, porta-voz do sindicato UNSA Police, citado pela agência Lusa.
"É um evento excecional. Foram dias de guerra, algo inédito para nós. Sabíamos que podíamos morrer durante uma operação qualquer, mas fomos visados porque somos polícias e o alvo foi mesmo o uniforme da polícia", disse o representante policial.
Gael Fabiano alertou que "faltam meios e homens na polícia" e que é altura de se colocar questões sobre "as falhas que ocorreram ao nível dos serviços de informação".
"Faltam efetivos, faltam meios, gostávamos que as palavras vãs cessassem e que nos dessem os meios para sermos uma polícia do Século XXI", explicando que para seguir uma pessoa durante 24 horas, são necessários 20 efetivos" e que "há cerca de três mil pessoas sob vigilância".
"Ainda por cima partir para a jiad (guerra santa) é um fenómeno na moda e os serviços de polícia não têm meios para responder a tudo", continuou, desabafando: "Esperemos que não tenham morrido por nada."
José Manuel Fonseca é polícia em Créteil, nos arredores de Paris, e também veio homenagear os colegas assassinados, falando em cerca de "dez mil pessoas a assistir à cerimónia".
"Como polícias temos medo porque há um risco importante e há diretivas do ministério dizendo que há por aí outros grupos de indivíduos que querem aterrorizar mais ainda a população francesa e, sobretudo, os polícias", disse o português membro do sindicato Alliance Police Nationale, também citado pela Lusa.
Philippe e Sylvain, de 35 e 45 anos, vieram de Chateauroux, no centro de França, para prestar homenagem aos colegas assassinados, ainda que tenham trabalhado durante toda a noite e voltem a trabalhar dentro de algumas horas.
"Vim por solidariedade pelos colegas e pelas suas famílias, neste dia triste", começou por explicar Philippe, acrescentando que "o medo faz parte do trabalho" mas que estão "menos expostos que os colegas de Paris".
"Há terroristas em todas as cidades", corrige Sylvain, precisando que Chateauroux tem 50 mil habitantes.
"Tentamos ter mais cuidado, estamos muito mais desconfiados e em vez de deixarmos a arma no serviço, levamo-la para casa. Não é fácil identificar os jiadistas, eles não têm todos barba comprida", completa o polícia.
Marie-Therese tem 70 anos e já está na reforma há 10, tendo vindo à cerimónia "para prestar homenagem aos colegas mortos a sangue frio".
"Foram muito mais que assassinos, foram bárbaros os que os mataram porque visam tudo o que nao obedeça ao seu fanatismo", declarou à Lusa, visivelmente emocionada e fazendo questão de se mostrar "orgulhosa pela coragem e inteligência das forças francesas que levaram a cabo as operações de sexta-feira que neutralizaram os assassinos".
Franck Brinsolaro, 49 anos, Ahmed Merabet, 40 anos, e Clarissa Jean-Philippe, 26 anos, foram os polícias que morreram na semana passada em Paris.
Franck Brinsolaro, encarregue da proteção de Charb - o diretor do "Charlie Hebdo" - foi assassinado na quarta-feira no ataque contra o jornal; Ahmed Merabet, polícia municipal, foi ferido e depois abatido na rua uns metros à frente da porta do semanário; Clarissa Jean-Philippe, também polícia municipal, foi morta na quinta-feira num ataque reivindicado por Amédy Coulibaly, em Montrouge.
A homenagem aos três polícias assassinados nos atentados da semana passada foi presidida pelo Presidente francês, François Hollande, que destacou que "França mostrou a força perante os fanáticos" durante as operações que acabaram com a morte dos dois autores do ataque contra o jornal "Charlie Hebdo" e do autor da tomada de reféns num supermercado "kosher".
Para sexta-feira está prevista uma homenagem a todas as vítimas dos ataques terroristas no Hôtel des Invalides, em Paris.