França prepara-se para alterar as regras de expulsão de jovens ilegais, depois de a detenção de uma jovem cigana kosovar durante uma visita de estudo ter desencadeado forte polémica e protestos de milhares de alunos.
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A presidência francesa evocou uma possível classificação da escola e do "tempo de vida escolar" como "santuário" - refúgio - para evitar que a expulsão possa interromper a escolarização de jovens indocumentados, segundo a agência France Presse.
As conclusões do inquérito administrativo à expulsão da jovem Leonarda Dibrani, aberto na quarta-feira pelo Governo, deverão ser entregues esta sexta-feira ao final do dia ao executivo, que anunciará a sua posição durante o fim de semana.
O ministro do Interior, Manuel Valls, considerado o principal responsável pela situação, encurtou uma visita às Antilhas para regressar esta sexta-feira à noite a Paris.
Dibrani, 15 anos, foi detida a 9 de outubro durante uma visita de estudo da escola que frequentava há quatro anos e expulsa para o Kosovo no mesmo dia, juntamente com a família.
A divulgação do caso, esta semana, desencadeou forte polémica em França e levou para a rua milhares de estudantes em protesto, ao mesmo tempo que suscitou divisões dentro do próprio governo.
O presidente francês, François Hollande, não se pronunciou até ao momento sobre o caso, mas a sua companheira, Valérie Trierweiler, afirmou que "não se ultrapassam certas fronteiras" e que "a porta da escola é uma delas".
O ministro da Educação, Vincent Peillon, afirmou por seu lado que as expulsões não podem ocorrer "no quadro da escolaridade".
O pai da rapariga, Reshat Dibrani, disse esta sexta-feira à agência France Presse ter mentido às autoridades francesas sobre a origem kosovar da família, cujos membros nasceram na maioria em Itália, na esperança de aumentar as hipóteses de obterem asilo em França.
Depois de, na quinta-feira, estudantes liceais terem bloqueado várias escolas de Paris para protestar contra as expulsões de alunos estrangeiros, os protestos voltaram hoje a cerca de 50 escolas, 23 delas em Paris, e uma manifestação de estudantes foi marcada para hoje na capital francesa.
Alguns dirigentes políticos anunciaram que vão participar no protesto, incluindo o copresidente do partido de esquerda Jean-Luc Mélenchon, que exigiu a demissão do ministro do Interior, e dirigentes do partido comunista, que apelaram à manifestação e exigiram de Hollande um "compromisso solene e imediato de suspender as expulsões de jovens estrangeiros escolarizados".
Estudantes e políticos protestam igualmente contra a expulsão, há uma semana, de Khatchik Kachatryan, um aluno arménio de 19 anos.
Desde o regresso da esquerda ao poder, em 2012, Kachatryan é o quinto aluno maior de idade a ser expulso de França, segundo a Rede Educação Sem Fronteiras (RESF), que contabilizou a expulsão de um total de dez famílias com crianças escolarizadas.