Sexta-feira é o dia D para a reforma das pensões em França? Na véspera do pronunciamento do Conselho Constitucional sobre a nova lei adotada sem ter sido votada na Assembleia Nacional (graças ao famoso artigo 49.3 da Constituição) e um pedido de referendo para submeter a sufrágio popular o polémico diploma, centenas de milhares de pessoas voltaram a tomar as ruas em 280 cidades.
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Com a França sob greves e manifestações desde janeiro contra o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos e o aumento para 43 do número de anos de contribuições exigíveis, a 12.ª mobilização nacional organizada pelos principais sindicatos manteve a pressão.
A agência France Presse cifra a mobilização em "centenas de milhares" de manifestantes, enquanto a Confederação Geral do Trabalho (CGT) aponta um milhão e meio e o Ministério do Interior fala em 380 mil.
No habitual contraponto dos dados policiais aos sindicais, o diário "Le Monde" situa em Paris entre 42 mil e 400 mil, respetivamente; em Marselha, entre 6500 e 130 mil; em Toulouse, entre nove mil e 70 mil; e, em Bordéus, entre 6200 e 40 mil.
As manifestações decorreram de forma geralmente pacífica. A rádio France Info relata que centenas de manifestantes se fizeram fotografar "nas calmas" junto dos cordões de Polícia.
Louis Vuitton "invadida"
Mas registaram-se incidentes com danos em lojas e mobiliário urbano, e cargas policiais nomeadamente em Rennes, Nantes e Lyon, onde um jornalista ficou ferido, e em Paris, nomeadamente na Praça da Bastilha. Há dezenas de detidos.
Na capital, um grupo de "coletes amarelos" entre 300 pessoas concentradas a partir de uma marcha de ferroviários desde a estação de Paris-Lyon, invadiu durante alguns minutos o vestíbulo da sede da luxuosa marca Louis Vuitton, nos Campos Elísios, deixando autocolantes com palavras de ordem contra a reforma imposta pelo presidente, Emmanuel Macron.
Toda a atenção está concentrada na reunião decisiva de sexta-feira do Conselho Constitucional, cuja sede está entre os "locais sensíveis" que a Polícia mantém sob proteção especial, interditando qualquer manifestação até sábado.
Da sessão, espera-se um veredito sobre a lei ou o aval à realização de um referendo para devolver aos eleitores o poder de a sufragar, uma vez que não foi votada na Assembleia Nacional.
"O que é seguro é que esse projeto de lei não sairá indemne do Conselho Constitucional", confia a secretária-geral da CGT, Sophie Binet. "Contamos com a sabedoria dos juízes", disse aos jornalistas.
Para esta sexta-feira, são esperadas novas manifestações, mas as centrais sindicais deverão investir numa maior mobilização nas comemorações do 1.º de Maio - Dia do Trabalhador.