O motociclista que se atirou para debaixo do camião de Mohamed Lahouiej-Bouhlel está vivo. E terá sido graças à sua coragem que a polícia conseguiu atingir o autor do atentado de Nice.
Corpo do artigo
Chama-se Franck e diz que estava pronto a morrer. É o motociclista de que as redes sociais falaram após o atentado de Nice, na noite de 14 de julho, que muitos acreditaram morto depois de ter mandado a scooter que guiava para debaixo do camião de Mohamed Lahouiej-Bouhlel, tentando travá-lo.
O homem de perto de 50 anos, pai de família e funcionário de placa no Aeroporto de Nice Côte d'Azur, está vivo e falou esta quinta-feira ao jornal "Nice Matin". Afetado fisicamente - partiu uma costela, tem contusões na mão esquerda, as costas pisadas - Franck está sobretudo abalado psicologicamente.
756153503437975552
Seguia pela Promenade des Anglais com a esposa, já tarde, tendo perdido o fogo de artifício que assinalou o Dia da Tomada da Bastilha e seguindo atrás de um gelado recompensador, quando viu a multidão fugir, o camião passá-lo a alta velocidade, sobre o passeio, e corpos "a voar por todo o lado". Pensou no filho que estaria na praça no final do passeio enquanto a mulher o mandava parar, agarrando-lhe o braço, ordenou-lhe que saltasse da mota e acelerou, num slalom entre vivos e mortos, já.
5285739
"Queria travá-lo a qualquer custo. Eu estava num estado alterado mas ainda lúcido. Consegui colocar-me à esquerda dele, o meu objetivo era atingi-lo na cabine". Atirou a scooter contra o camião, correu atrás até conseguir agarrar-se à cabine, subiu os degraus e deparou com a janela aberta. De frente para o terrorista, bateu-lhe. "Com todas as minhas forças com a mão esquerda, eu que sou dextro". Esmurrou o terrorista na cara, perante o seu silêncio. Mohamed Lahouiej-Bouhlel estava armado e tentou atingir Franck, mas a arma não parecia responder. "Tentei arrancá-lo da cabine pela janela porque não conseguia abrir a p... da porta. E continuava a bater-lhe... ele acabou por me golpear com a coronha na cabeça". Caiu e voltou a subir. "Estava pronto a morrer, na verdade. Estava lúcido e pronto a morrer para travá-lo." Até cair de novo, antes de os tiros da polícia abateram Bouhlel.
5285674
Franck acabou detido pela polícia, como outros, confundido com terroristas. Explicou-se e foi mandado em paz. Com o seu gesto, reduziu a velocidade do camião e permitiu que os agentes atirassem, acertando e travando a chacina. Para trás ficavam 84 mortos e cerca de 200 feridos, entre os quais quatro portugueses.