A Frelimo somou mais uma vitória eleitoral ao seu currículo sem derrotas nas municipais de quarta-feira, mas o triunfo foi manchado pelos surpreendentes resultados do MDM em Maputo e Matola, além das esperadas conquistas da Beira e Quelimane.
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Quando ainda só há resultados provisórios, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), no poder, poderá conquistar 50 municípios, dos 53 em jogo, perdendo os da Beira e Quelimane para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que já os governava.
A eleição para a importante cidade de Nampula foi adiada para 1 de dezembro, devido a um erro nos boletins de voto.
Mas, além da habitual vitória, com mais de 80% dos votos, nos seis municípios de Gaza, província de onde são originários os seus históricos dirigentes, a Frelimo viu o MDM avançar em eleitorados inesperados, como os de Maputo e da Matola, habituais bastiões do partido.
Na capital moçambicana, o MDM tem 39,78% dos votos, quando estão contadas cerca de metade das 861 mesas de voto, e na cidade satélite da Matola o candidato da oposição leva 43,33% dos votos, com 72% das mesas de voto escrutinadas.
Em algumas votações, o MDM perde por margens mínimas, como em Milange, Gúrue, Mocuba e Alto Mulocoé, municípios da Zambézia, bem como na Gorongosa, província de Sofala, e em Chimoio, capital de Manica.
E nos dois municípios que já conquistou, Beira e Quelimane, o MDM viu as suas votações reforçadas relativamente às anteriores vitórias. Na Beira, capital de Sofala, Daviz Simango, atual líder do município e presidente do MDM, segue na frente com 70% dos votos, quando a maioria das mesas já foi contada, o que prenuncia uma maioria absoluta na assembleia municipal da segunda cidade do país.
Idêntico cenário coloca-se em Quelimane, a quarta cidade, onde o candidato do MDM, o atual presidente do município, Manuel de Araújo, já declarou vitória, com as contagens a darem-lhe 69,89% dos votos, apesar de faltar ainda escrutinar a maioria dos boletins.
A votação em Quelimane ficou marcada por confrontos no próprio dia das eleições e na quinta-feira um apoiante do MDM foi morto a tiro pelas forças de segurança durante os festejos da vitória no partido.
Uma leitura inicial dos resultados confirma o MDM como um partido com implantação nacional, e com um grande apoio urbano, sobretudo na juventude escolarizada, e beneficiando do efeito das redes sociais.
O terceiro partido da oposição beneficiou igualmente da ausência da Renamo nestas municipais, a qual poderá ter dificuldades na reconquista, em futuras eleições, do seu tradicional apoio no centro e norte do país.
Para a Frelimo, o fraco desempenho dos seus candidatos em Maputo e na Matola, cidades onde vive a elite de Moçambique, poderá condicionar ainda mais o estranho processo de seleção do seu candidato às presidenciais, que continua por nomear, a menos de um ano das eleições.
ESta sexta-feira, o diário "O País" titulava "Susto em Maputo", para descrever o avanço do MDM "em municípios tradicionalmente dominados pela Frelimo", enquanto, em editorial, o semanário Savana considerava que as "autárquicas encorajam mudanças".