Autoridades no terreno registam mais de 20 mil mortos. Equipas internacionais já estão nas zonas mais afetadas a apoiar operações.
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"Precisamos de aquecimento e comida. Ontem à noite não conseguimos dormir porque estava muito frio", contou à Reuters Munira Mohammad, que, juntamente com os quatro filhos, fugiu para a província de Idlib, na Síria, depois de abandonar a fustigada cidade natal, Alepo. A família de cinco elementos espelha as privações que milhares de sobreviventes passam nos dois países atingidos pelos sismos, ao verem como única opção alocar-se em campos de refugiados ou em lugares ao ar livre que não suprimem as necessidades primárias da vida humana. A desventura de quem não tem onde dormir, numa altura em que os termómetros descem para temperaturas negativas sempre que o sol se põe na Turquia e na Síria, alia-se à falta de alimento e ao desespero da incerteza. Enquanto isso, as operações de resgate progridem, mas com o passar dos dias decrescem as boas notícias: o número de mortos atingiu os 20 411.
"O tempo está a esgotar-se"
Ao mesmo tempo que as autoridades tentam fazer chegar suprimentos aos sobreviventes, mantêm as operações de resgate para socorrer os que ainda estão entre os escombros dos mais de 6 mil edifícios que ficaram completamente destruídos. O desenvolvimento dos trabalhos está, cinco dias depois, a ser acompanhado pelas equipas internacionais que finalmente começam a chegar ao terreno, bem como pelas organizações não-governamentais.
Pelo menos 6479 equipas de resgate de 56 países já estavam ontem ativas nas 10 províncias turcas mais afetadas pelo terremoto, com grupos de mais de 19 nações preparados para atuar, retirando os vivos por terra e ar. A Turquia anunciou ainda que recebeu garantias de apoio a longo prazo por parte de 95 países e 16 instituições internacionais, no dia em que chegou o primeiro comboio de assistência à Síria.
Apesar da celeridade da ação das autoridades, os Capacetes Brancos lembraram que "o tempo está a esgotar-se e centenas de famílias estão ainda presas. Cada segundo conta para salvarmos uma vida", alertou a organização síria de defesa civil na rede social Twitter.
Preocupado com o cenário que resultou dos dois sismos, António Guterres também está a mover esforços. O secretário-geral da ONU pediu que se evite politizar a situação e pressionou por mais acessos ao Noroeste da Síria, realçando que ficaria "muito feliz" se as Nações Unidas pudessem alcançar mais do que uma passagem para a entrada no país, podendo assim disponibilizar ajuda aos mais carenciados. "As estradas estão danificadas. As pessoas estão a morrer. É a hora de explorar todos os caminhos possíveis para levar ajuda e pessoal a todas as áreas afetadas", apelou, numa mensagem ao regime sírio, que controla fortemente as fronteiras do país.
Já Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, que visitou a cidade de Gaziantep esta quinta-feira, comprometeu-se a prestar auxílio às populações mais afetadas pelo desastre natural, prometendo reconstruir todas as habitações em ruínas no período de um ano. "Não vamos deixar nenhum dos nossos cidadãos sem auxílio", assegurou, numa altura em que galopam as críticas à falta de respostas rápidas por parte do Governo, nomeadamente proferidas pela oposição ao líder de Ancara.
Eleições em perigo
Entrou ontem em vigor o estado de emergência de três meses decretado no início da semana por Erdogan. O período abrange a data fixada para as eleições legislativas e presidenciais turcas (14 de maio), o que traz à tona um debate sobre a viabilidade de se realizar um escrutínio numa altura em que o país vive um dos piores momentos da sua História. Um porta-voz do Executivo admitiu que ainda era muito cedo para tomar qualquer decisão sobre a votação, porém, lembrou que cerca de 15% da população turca está sediada nas zonas afetadas pela tragédia. "Vamos observar os desenvolvimentos, mas será difícil realizar eleições" daqui a dois meses, frisou o responsável não identificado à Reuters.
Uma eventual suspensão do ato eleitoral levaria, por inerência, ao prolongamento do mandato de Erdogan, que além de ter em mãos a questão dos problemas de resposta à fatalidade, se depara com os prejuízos económicos resultantes. Segundo a consultora Fitch, as perdas nos dois países podem chegar aos 3,7 mil milhões de euros.