Da primeira votação dos 133 cardeais recolhidos na Capela Sistina não resultou consenso. Conclave prossegue esta quinta-feira, em quatro rondas que podem determinar o sucessor de Francisco.
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Fecharam-se os pesados portões da Capela Sistina, às 17.46 horas de Roma, pelas mãos do arcebispo Diego Giovanni Ravelli, mestre de celebrações litúrgicas pontifícias; isolaram-se os 133 cardeais da presença e influência do Mundo para iniciar a reflexão solene, sob os frescos de Michelangelo. Resultou a primeira votação, no Conclave eleitoral, em falta de consenso, e da chaminé, no topo da capela, sobre a qual recaíam todos os olhos, saiu fumo negro, já a noite descera sobre o Vaticano, às 21 horas locais, perante a multidão que enchia a Praça de São Pedro, o que empurra para esta quinta-feira nova ronda, agora em quatro votações diárias, para escolher, por fim, o 267.º Papa e líder de todos os católicos, que, espera-se, possa unificar uma Igreja global e dividida.
Às 17.43 horas havia proferido Ravelli a expressão latina “Extra Omnes [Todos Fora]”, indicando a todos os que não estivessem envolvidos na votação que se retirassem, para arredar do Conclave qualquer influência externa na eleição do sucessor de Francisco, e antes de encerrar a capela onde os 133 cardeais, todos com menos de 80 anos, haviam prestado juramento de sigilo.
O dia de Conclave teve início pela manhã, com a última eucaristia pública, na Basílica de São Pedro, antes de os eleitores recolherem à Capela Sistina. “Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar a sua luz e a sua força, a fim de que seja eleito o Papa que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil e complexo da história”, afirmou o decano dos cardeais, Giovanni Battista Re, na Basílica de São Pedro, durante a homilia da missa “Pro eligendo Romano Pontifice”.
Comunhão na diversidade
Para Battista Re, entre as tarefas do futuro líder dos católicos, “conta-se a de fazer crescer a comunhão de todos os cristãos com Cristo, comunhão dos bispos com o Papa e comunhão dos bispos entre si”. Re salientou que “é forte o apelo à manutenção da unidade da Igreja, segundo o caminho indicado por Cristo aos apóstolos”. Uma unidade que “não significa uniformidade, mas comunhão sólida e profunda na diversidade, desde que se permaneça plenamente fiel” à doutrina.
O ato que aguardava os cardeais eleitores foi descrito pelo decano - de 91 anos, e, por isso, excluído do Conclave – como um “ato humano pelo qual se deve deixar de lado qualquer consideração pessoal, tendo na mente e no coração apenas o Deus de Jesus Cristo e o bem da Igreja e da humanidade”.
Salientou o cardeal que “a eleição do novo Papa não é uma simples sucessão de pessoas”, tendo apelado aos fiéis que rezassem para que fosse escolhido alguém que siga a tradição dos “últimos cem anos”, que deu à Igreja “uma série de pontífices verdadeiramente santos e notáveis”. “Oremos para que Deus conceda à Igreja o Papa que melhor saiba despertar as consciências de todos e as energias morais e espirituais na sociedade atual, caracterizada por um grande progresso tecnológico, mas que tende a esquecer Deus”, referiu ainda Battista Re na homilia.
O sucessor do jesuíta Francisco, que morreu a 21 de abril e cujo pontificado se estendeu de 2013 a 2025, terá que reunir pelo menos dois terços, ou 89 votos, de entre os 133 cardeais, de 70 países, que integram o colégio eleitoral - contra os 115, de 48 países, do Conclave de 2013, o que reflete os esforços de Francisco, durante o seu pontificado, para ampliar o alcance da Igreja.
A partir desta quinta-feira, e depois da primeira votação de hoje, que durante mais de três horas deixou o mundo católico em suspenso, terão lugar quatro votações diárias, duas de manhã e duas de tarde. Ao final de cada votação, os boletins serão queimados e serão adicionados químicos para garantir que o fumo seja negro, no caso de uma votação não conclusiva, ou branco, no caso de uma votação que eleja, por fim, o 267.º líder da Igreja Católica.