Funcionário público francês drogou 250 mulheres em entrevistas de emprego para as ver a urinar

Depois de beber um café ou um chá, as mulheres sentiam uma necessidade urgente de urinar
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Um funcionário público francês está a ser acusado de ter drogado quase 250 mulheres durante entrevistas de emprego. Vítimas sentiam-se mal e muitas vezes urinavam na roupa. Christian Nègre, diretor-adjunto de recursos humanos no Ministério da Cultura francês, foi demitido e está sob investigação criminal.
De acordo com o jornal britânico "The Guardian", que cita diversos meios de comunicação franceses, as mulheres eram contactadas para alegados processos de recrutamento e recebidas em Paris, onde lhes era oferecido café ou chá que, segundo elas, continha diuréticos potentes e proibidos. As vítimas relatam que, pouco depois de consumirem as bebidas, começavam a sentir uma necessidade urgente de urinar, acompanhada de tremores, suores e mal-estar físico.
Nègre sugeria que a entrevista fosse realizada ao ar livre, em longas caminhadas longe de qualquer casa de banho. "Senti uma vontade crescenta de urinar", relatou Sylvie Delezenne, em declarações ao "The Guardian". "As minhas mãos tremiam, o meu coração batia com força, gotas de suor escorriam pela minha testa e eu estava a ficar vermelha. Eu disse: 'Preciso de uma pausa'. Mas ele continuou a andar".
Várias mulheres afirmam ter chegado ao ponto de urinar nas calças ou de terem sofrido episódios de humilhação pública. Delezenne, por exemplo, contou que cedeu à vontade e começou a urinar, acrescentando que Nègre se ofereceu para a tapar.
Um outra mulher disse que, depois de beber o café oferecido pelo funcionário, foram continuar a entrevista durante um passeio. Quando sentiu a necessidade de ir à casa de banho, pediu para voltar, dizendo estar com frio. Porém, Negrè atravessou a rua na direção oposta até às margens do Sena. "Ele olhou-me nos olhos e perguntou: 'Você precisa de fazer xixi?'. Foi como um adulto a falar com uma criança. Achei estranho, por isso respondi com frieza", contou a mulher. Segundo ela, o funcionário apontou para um depósito debaixo de uma ponte, mas a mulher recusou-se a urinar ali. "Senti um alerta na cabeça como se algo estivesse errado". A vítima conseguiu chegar a um bar, mas acabou por urinar nas calças enquanto subia as escadas para a casa de banho.
Anotava o que fazia num documento Excel
Em 2018, Negrè foi denunciado por um colega por tentar fotografar uma funcionária pública. Durante a investigação policial, os agentes encontraram numa pen drive um documento Excel com o título "Experiências P" e 179 nomes, inseridos entre 13 de maio de 2009 e 10 de dezembro de 2015. No arquivo, o funcionário supostamente registava as doses administradas e as reações das mulheres.
No ano seguinte, foi demitido do Ministério e do serviço público e formalmente acusado de crimes como tráfico de drogas e violência sexual. Apesar disso, continuou a trabalhar no setor privado enquanto o processo criminal ainda estava em andamento.
"Sob o pretexto de uma fantasia sexual, trata-se de poder e dominação sobre os corpos das mulheres através da humilhação e do controlo", afirmou Louise Beriot, advogada de várias mulheres que acusam Negrè.
Algumas vítimas receberam indemnizações na justiça cível, embora o Estado não tenha sido responsabilizado. No entanto, a maioria ainda aguarda justiça.

