O ator francês Gérard Depardieu manifestou, numa carta enviada a um canal de televisão russo e divulgada esta sexta-feira, a sua admiração pela democracia e pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, palavras que suscitaram críticas e mensagens de sarcasmo.
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A missiva foi divulgada um dia depois de o Kremlin ter assinado um decreto que concedeu ao ator francês a cidadania russa.
Depardieu, que interpretou ao longo da carreira várias personagens emblemáticas como foi o caso de Obélix ou de Cyrano de Bergerac, expressou a sua vontade de renunciar ao passaporte francês após o Governo de Paris ter anunciado que pretendia decretar um novo imposto sobre os ricos.
"Vou aprender russo. Já o disse ao presidente François Hollande. Ele sabe que gosto muito do presidente Vladimir Putin e isso é mútuo", indicou a carta enviada por Depardieu à estação russa.
O ator acrescentou que transmitiu a Hollande que a Rússia "é um país com uma grande democracia e não é um país onde o primeiro-ministro pode chamar patético a um dos seus cidadãos".
"Gosto do país, do seu povo, da sua história, dos seus escritores. Gosto dos filmes russos onde trabalhei com atores como Vladimir Mashkov. Admiro a cultura do país, a sua forma de pensar", sublinhou o ator na missiva, divulgada na página do canal na Internet.
O artista, de 64 anos, recordou ainda que o seu pai "em tempos seguidor do comunismo" ouvia a rádio Moscovo.
"Isto também faz parte da minha cultura. Na Rússia vive-se bem. Não obrigatoriamente em Moscovo, porque é uma cidade demasiado grande para mim", referiu o ator, admitindo preferir viver no campo.
"Na Rússia conheço sítios fantásticos. É o caso da localidade onde se encontra o Gosfilmofond (Arquivo Estatal de Cinema) que é dirigido pelo meu amigo Nikolái Borodachov. Perto de um bosque de betuláceas, onde me sinto muito bem", salientou.
Esta carta do ator suscitou imediatamente duras críticas e diversas mensagens de sarcasmo nas redes sociais.
"Gérard, vem no dia 31 de janeiro à praça Triumfalnia [em Moscovo], com o teu novo passaporte russo no bolso. Todos os dias 31, às 18:00, nesta praça, cidadãos russos exigem o direito de se manifestarem de forma pacífica, como previsto no artigo 31 da Constituição. Esperamos por ti, Gérard!", escreveu Eduard Limonov, escritor e um reconhecido opositor de Putin, na rede social LiveJournal.
"Aqui fica um convite para assumires um verdadeiro papel histórico de defensor das liberdades na Rússia", acrescentou Limonov.
"Não vamos esquecer e nunca vamos perdoá-lo por esta frase: 'É uma grande democracia'", afirmou o jornalista Matvei Ganapolski, na rádio Echo Moskvy, ligada à oposição russa.
Outro opositor de Putin, Lev Rubinstein, também reagiu às palavras do ator.
"Caro Dépardieu, não hesite, venha para a Rússia. Os seus impostos vão ser canalizados para boas obras: novo aumento dos agentes de serviços de segurança, de procuradores, de juízes e de gorilas armados com bastões que 'passam tabaco' ('espancam', numa expressão idiomática francesa) a jovens e senhoras de idade que representam uma ameaça para a nossa estabilidade", ironizou Rubinstein.
Na rede social Facebook também estão a circular caricaturas de Gérard Depardieu.
A decisão do ator francês também não passou despercebida à imprensa europeia, nomeadamente aos jornais franceses.
É o caso do jornal "Le Figaro", conotado com a direita francesa, que destacou o caso com a frase: "Que filme!".
Já em Espanha, o jornal "El Mundo" escreveu um artigo com o título "Amigo dos ditadores", publicando ainda uma fotografia de Depardieu ao lado do líder histórico cubano Fidel Castro.