Pela primeira vez, a Organização das Nações Unidas assinala, esta sexta-feira, o Dia Mundial dos Glaciares, numa altura em que perdem o equivalente a três piscinas olímpicas de gelo por segundo, em todo o mundo.
Corpo do artigo
Os glaciares armazenam cerca de 70% dos recursos globais de água doce. Esta sexta-feira, a ONU alertou para o derretimento acelerado dos glaciares que pode desencadear uma avalanche nas economias, ecossistemas e comunidades mundiais, não só nas regiões diretamente afetadas, mas em todo o mundo.
“A preservação dos glaciares não é apenas uma necessidade ambiental económica e social, é uma questão de sobrevivência”, afirmou Celeste Saulo, Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial, citada no jornal espanhol "El Pais". Uma das consequências mais graves desta redução da cobertura de gelo está no futuro abastecimento de água em algumas áreas do planeta, especialmente na Ásia.
Um estudo internacional publicado recentemente na "Nature", no qual participaram 35 grupos de investigação, coordenados pelo Serviço Mundial de Monitorização dos Glaciares, estimou que, a nível mundial, os glaciares perderam em média 273 mil milhões de toneladas de gelo anuais desde 2000, o que equivale a três piscinas olímpicas por segundo. A primeira metade deste estudo foi realizada entre 2000 e 2012 e a segunda entre 2012 e 2023.
Esta situação piorou na última década, visto que a quantidade de gelo que desapareceu aumentou 36%. Segundo esta investigação, denominada GlaMBIE (Glacier Mass Balance Intercomparison Exercise), que combina quatro metodologias de medição diferentes, em todo o mundo houve uma redução de 5% do volume da área congelada, 2% na Antártida e 39% nos Alpes e Pirenéus, áreas mais afetadas.
Samjel Nussbaumer, investigador do Serviço Mundial de Monitorização de Glaciares da Universidade de Zurique, na Suíça, acredita que o recuo das zonas congeladas pode levar, por exemplo, à formação de lagos, que por sua vez levam a instabilidades de declive e inundações repentinas. “As mudanças nos glaciares têm impacto em diferentes níveis: desde riscos naturais locais até à disponibilidade regional de água e ao aumento global do nível do mar”, revela Nussbaumer, um dos autores do estudo.
Uma das graves consequências para a humanidade é a elevação do nível do mar, causada pelo aquecimento dos oceanos e pelo derretimento dos glaciares e das calotas polares da Gronelândia e da Antártida. Os glaciares que não se encontram nesta área estão a derreter a um ritmo muito mais rápido, onde o nível do mar aumenta cerca de 3.5 milímetros por ano, mas há gelo suficiente para causar um aumento de 30 a 45 centímetros.
“O problema de o nível do mar subir alguns centímetros é que as tempestades e os eventos extremos na costa se tornam muito mais severos”, partilhou Alejandro Blázquez, autor da investigação e cientista que estudou o fenómeno no Laboratório de Estudos em Geofísica Espacial e Oceanografia, em Toulouse, França.
De acordo com a OMM o ano hidrológico de 2024 marcou o terceiro ano consecutivo em que todas as 19 regiões glaciares sofreram uma perda de massa líquida. Só no ano passado, a perda de massa dos glaciares atingiu 450 mil milhões de toneladas, a quarta pior já registada. Os glaciares da Escandinávia, Svalbard e norte da Ásia sofreram a maior perda anual de massa já registada.