O Governo da república autónoma da Crimeia negou que pretenda promover a secessão da Ucrânia, após a convocação pelo parlamento local, na quinta-feira, de um referendo para reforçar a autonomia desta região ucraniana com maioria de população russófona.
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"Não procuramos a independência. Simplesmente, queremos que a Crimeia seja uma autêntica república autónoma no quadro da Ucrânia, e não como agora, quando esses atributos não são exercidos", assegurou à agência noticiosa Efe, citado pela Lusa, um porta-voz do governo da península.
O mesmo responsável disse que a decisão de convocar um plebiscito em 25 de maio para ampliar a autonomia da península, situada nas margens do Mar Negro, é irrevogável. Assegurou ainda que o primeiro-ministro do governo autónomo, Serguei Aksionov, vai formar hoje um novo gabinete ministerial que poderá iniciar as consultas com as novas autoridades de Kiev.
"Apoia a autodeterminação da Crimeia no interior da Ucrânia na base dos tratados e convenções internacionais?" é a pergunta que será submetida a consulta popular.
O porta-voz do governo da Crimeia reconheceu que a polícia e as patrulhas populares estabeleceram postos de controlo em várias zonas da península, incluindo na estrada que faz a ligação ao restante território ucraniano.
"Os postos de controlo são para evitar a entrada de extremistas de grupos como o Setor de Direita. As restantes pessoas podem aceder livremente à Crimeia", assinalou.
Diversos média referiram que efetivos da unidade anti-distúrbios Berkut, desarticulada no resto do território pelas autoridades, estavam posicionados no istmo da Crimeia (Perepok) para impedir o acesso do exército ucraniano.
O porta-voz assegurou ainda que o aeroporto de Simferopol, a capital da península e onde um grupo armado pró-russo irrompeu esta madrugada, funciona com normalidade.
"O aeroporto está a receber aviões com normalidade. Nas suas instalações encontram-se efetivos do Ministério do Interior e patrulhas populares, responsáveis por garantir a ordem pública", disse.
As novas autoridades da Ucrânia pediram esta sexta-feira uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para analisar a situação na península. O documento, lido pelo chefe do parlamento e presidente interino, Olexandre Turchinov, sublinhou que a situação na Crimeia "pode representar uma ameaça para a paz e segurança internacionais".
A Rada (parlamento) aprovou ainda esta sexta-feira uma resolução em que solicita à Rússia para se abster de apoiar o separatismo e fomentar medidas que atentem contra a integridade territorial ucraniana.
Os russos, a maioria da população na Crimeia, acusam as novas autoridades em Kiev de "usurpação do poder" na sequência da deposição do presidente Viktor Ianukovich e de pretenderem impor na península a "cultura ucraniana".
Pelo contrário, os tártaros locais defendem a unidade e integridade territorial da Ucrânia e opõem-se à convocação de um referendo separatista.
Os censos mais recentes indicam que na Crimeia, território com 26.081 quilómetros quadrados e que acolhe uma base naval russa em Sebastopol, vivem cerca de dois milhões de pessoas, incluindo 60% de russos, 25% de ucranianos e 12% de tártaros.