O chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, justificou com a aplicação das leis e o estado de direito as detenções realizadas, esta quarta-feira, na Catalunha numa operação para contrariar o referendo de 1 de outubro considerado ilegal.
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"Qualquer democrata, [...], tem a obrigação de respeitar o que diga um dos três poderes do Estado", disse Mariano Rajoy no Parlamento espanhol em resposta a uma pergunta feita pelo deputado separatista catalão da ERC (Esquerda Republicana Catalã).
Gabriel Rufián aproveitou o período de perguntas ao Governo para lançar acusações duras ao chefe do Governo: "Peço-lhe e exijo que tire as suas mãos sujas das instituições catalãs", disse.
A polícia espanhola prendeu pelo menos 12 pessoas esta manhã em operações de revista e inspeção em vários departamentos do Governo regional, em Barcelona, no quadro da luta contra todos os que possam estar a ajudar na preparação do referendo de autodeterminação da Catalunha, considerado ilegal pelas instituições espanholas.
Mariano Rajoy insistiu que se tratou de uma operação judicial para garantir que se cumpra a lei, apelando ao respeito pelo Estado de direito e sublinhando que a operação da Guardia Civil foi decidida pelo poder judicial.
Os acontecimentos desta manhã em Barcelona são o último episódio da tensão crescente entre Madrid e os separatistas da Catalunha.
Depois dos órgãos de comunicação social noticiarem as revistas e as detenções várias centenas de pessoas juntaram-se e manifestaram a sua oposição à atuação da polícia.
Mariano Rajoy vai reunir-se separadamente hoje com os líderes do PSOE (socialistas) e dos Cidadãos (liberais), partidos que estão contra o movimento separatista e apoiam, em termos gerais, a posição do Governo central, para os informar da evolução da situação.
O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início do mês, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para 1 de outubro próximo.
Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.
Os independentistas defendem que cabe apenas aos catalães a decisão sobre a permanência da região em Espanha, enquanto Madrid se apoia na Constituição do país para insistir que a decisão sobre uma eventual divisão do país tem de ser tomada pela totalidade dos espanhóis.
O conflito entre Madrid e a região mais rica de Espanha, com um PIB superior ao de Portugal, cerca de 7,5 milhões de habitantes, um terço da área de Portugal, uma língua e culturas próprias, arrasta-se há várias décadas.