Grávida em morte cerebral ficou ligada às máquinas até bebé nascer devido à lei antiaborto dos EUA
Uma mulher grávida em morte cerebral, que foi mantida viva no estado da Geórgia, no sul dos EUA, devido a restrições locais ao aborto, deu à luz. Depois, foram desligados os aparelhos que a mantinham viva.
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Adriana Smith, enfermeira licenciada, sofria de fortes dores de cabeça em fevereiro, quando estava grávida de nove semanas. Uma primeira visita ao hospital terminou com apenas uma receita de medicamentos. Na manhã seguinte, quando a mulher de 30 anos foi levada para o hospital onde trabalhava, os médicos encontraram múltiplos coágulos sanguíneos no cérebro, tendo sido declarada em morte cerebral.
A lei da Geórgia proíbe o aborto após seis semanas de gravidez, uma das chamadas leis de "batimentos cardíacos" do país, referindo-se à primeira deteção aproximada de um batimento cardíaco fetal. Como Smith estava grávida de nove semanas, os médicos hesitaram em fazer qualquer coisa que pudesse infringir a lei, segundo a mãe, April Newkirk.
"Esta decisão deveria ter sido nossa", disse Newkirk, em declarações à estação local da NBC, WXIA-TV, em meados de maio. "Não estou a dizer que teríamos optado por interromper a gravidez dela, o que estou a dizer é: devíamos ter tido uma escolha", sublinhou.
"Na sexta-feira, 13 de junho de 2025, o seu filho, chamado Chance, nasceu prematuro, aproximadamente às 4.41 horas, através de uma cesariana de emergência", disseram três congressistas democratas, em comunicado. "A Chance pesa cerca de 450 gramas e está atualmente na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais", referia o comunicado, acrescentando que Smith foi desligada dos aparelhos que a mantinham viva na terça-feira.
A mãe de Adriana criou uma angariação de fundos na plataforma GoFundMe. "A Adriana tem um filho de sete anos e uma família que está destroçada, e pedimos orações e apoio neste momento. Qualquer coisa ajuda!", lê-se na página, onde já foram arrecadados mais de 233 mil dólares (equivalente a 203 mil euros).
Em junho de 2022, o Supremo Tribunal dos EUA anulou o caso Roe v Wade, o histórico caso de 1973 que estabeleceu proteções federais para o acesso ao aborto. Desde então, mais de 20 dos 50 estados, incluindo a Geórgia, impuseram limites rigorosos ao aborto, ou mesmo proibições completas.
As três congressistas, Nikema Williams, Ayanna Pressley e Sara Jacobs, pressionam por melhores proteções dos direitos das mulheres grávidas, "particularmente das mulheres negras, que são desproporcionalmente impactadas pela negligência médica sistémica e pelas leis antiaborto restritivas". "A falta de um parecer jurídico formal ou de orientação do Ministério Público deixa as famílias e os médicos num limbo", disseram as parlamentares, que apresentaram uma resolução ao Congresso sobre o assunto.