Greve, protestos, expulsão de diplomatas. Mundo revolta-se com interceção de flotilha por Israel
A interceção em águas internacionais da flotilha Global Sumud, que levava ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, pela Marinha israelita, está a gerar indignação ao redor do globo. Sindicatos convocaram greves, grupos realizaram protestos e estudantes bloquearam universidades contra a intervenção no Mediterrâneo.
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Em Itália, diversos protestos e marchas ocorreram na noite de quarta-feira, após a notícia da interceção. Em Nápoles, os manifestantes entraram na estação de comboios da Piazza Garibaldi e andaram sobre os trilhos.
Manifestantes numa estação em Milão (Foto: Piero Cruciatti / AFP)
A União Sindical de Base (USB) e a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) convocaram greves gerais para a sexta-feira, dia 3 de outubro. "Não é apenas um crime contra pessoas indefesas, mas também é grave que o Governo italiano tenha abandonado os trabalhadores italianos em águas internacionais abertas, violando os nossos princípios constitucionais", argumentou a CGIL.
"Defender a Flotilha Global Sumud significa defender a liberdade, a paz e a dignidade do trabalho e dos povos. Significa dizer basta ao genocídio na Palestina e exigir o fim imediato do cerco, da ocupação, dos abastecimentos militares e do comércio com Israel", defendeu a USB.
Marcha em Roma (Foto: EPA/ALESSANDRO DI MEO)
Em preparação para a greve, estudantes ocuparam várias universidades italianas e realizaram assembleias extraordinárias e piquetes. Foram registadas ações em Milão, Bolonha, Turim, Génova e Roma, segundo a agência de notícias Ansa.
"Enquanto observo o sequestro ilegal por parte de Israel dos únicos humanos que arriscaram as suas vidas para quebrar o bloqueio ilegal de Israel, os meus pensamentos estão com o povo de Gaza, preso nos campos de extermínio de Israel", escreveu a também italiana Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, na rede social X (ex-Twitter). "A vergonha recai, antes de mais, sobre os Governos ocidentais e sobre a sua inação cúmplice", completou.
Manifestação na Cidade do México (Foto: EPA/Isaac Esquivel)
Foram registados protestos em Buenos Aires, Argentina, em Tunes, Tunísia (de onde parte das embarcações da flotilha zarpou), em Atenas, Grécia, em Tolouse, França, na Cidade do México e em diversas outras localidades.
Em Istambul, na Turquia, milhares marcharam da Mesquita de Barbaros Hayrettin Pasha até ao consulado-geral israelita. Em Ancara, manifestantes protestaram em frente à embaixada dos Estados Unidos. O ministro dos Negócios Estrangeiros turco classificou o episódio com a flotilha como "um ato de terrorismo" e um exemplo de que "as políticas fascistas e militaristas prosseguidas pelo Governo genocida de Netanyahu - que condenou Gaza à fome - não se limitam aos palestinianos".
Pressão diplomática de Bogotá e Madrid
O presidente colombiano, Gustavo Petro, anunciou a expulsão de diplomatas israelitas e suspendeu o tratado comercial com Israel. Nas ruas de Bogotá, revoltosos reuniram-se em frente à sede da Associação Nacional de Empresários da Colômbia (ANDI), acusando a organização de ter "laços diretos com a missão económica de Israel na Colômbia". A Andi rejeitou tal acusação.
O Governo espanhol convocou, esta quinta-feira, a encarregada de negócios de Israel para comunicar que os nacionais detidos são "cidadãos espanhóis solidários, cujo objetivo era única e exclusivamente humanitário, que não representavam nem representam qualquer ameaça para Israel ou para qualquer outra pessoa, e que estavam a exercer um direito básico ao abrigo do Direito Internacional".
Ação em Buenos Aires (Foto: Luis ROBAYO / AFP)
Milhares de estudantes em Espanha participam hoje numa greve contra o ataque à flotilha e a situação em Gaza. O periódico "El País", que entrou em contacto com vários diretores e professores em todo o país, noticiou uma forte aderência à mobilização.
O Sindicato dos Estudantes convocou manifestações em 40 cidades espanholas a partir do meio-dia. "Não vamos olhar para o lado. A causa palestiniana é a causa da juventude e de milhões de nós que defendemos os direitos humanos e a justiça social. É por isso que convocamos uma greve geral estudantil para esvaziar as salas de aula e encher as ruas de dignidade", acrescentou.
Reação dividida em Portugal
A interceção israelita resultou na detenção de três portugueses - a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e o ativista Miguel Duarte. A política do BE - partido que será ouvido pelo presidente da República esta tarde - pediu para os portugueses pressionarem o Governo. O primeiro-ministro Luís Montenegro disse, esta quinta-feira, que espera o regresso dos nacionais "sem nenhum incidente". Já o ministro da Defesa, Nuno Melo, condenou a "iniciativa panfletária" e "irresponsável".
A reação do Governo foi alvo de críticas da Amnistia Internacional Portugal, que lamentou que "não houve uma única condenação sobre o facto de terem sido detidos civis portugueses". "Isto tem de nos fazer pensar. Ninguém esperava que o ministro dos Negócios Estrangeiros voasse para Telavive para ir buscar os cidadãos portugueses, mas esperava-se uma palavra de condenação e esperava-se, desde o início, uma palavra de apoio a um esforço humanitário e de solidariedade", disse à agência Lusa João Godinho Martins, diretor da organização.
Protestos foram convocados para esta quinta-feira em diversas cidades portuguesas (Aveiro, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Faro, Lisboa, Porto, Setúbal e Viseu). O Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, que considerou a intervenção israelita na flotilha "um ato de pirataria" e um "rapto", anunciou que participará nas manifestações.