Mais de 9,3 milhões de eleitores são chamados a eleger, no domingo, o novo presidente da Guatemala, além do Parlamento, dos órgãos de 340 municípios e deputados ao Parlamento Centro-americano, numa controversa consulta marcada pelo afastamento das principais alternativas à Direita e à extrema-direita do sistema.
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Embora ainda figure na lista oficial de 23 candidatos a presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Carlos Pineda, do partido Prosperidade Cidadã (PC), que até 27 de maio liderava as sondagens, com 23%, não consta no boletim de voto com 22 nomes em sufrágio.
Pineda foi excluído pelo Tribunal Constitucional, após um recurso do partido Cambio, alegando erros nas assembleias de nomeação dos candidatos. Antes, foi afastado Roberto Garzu, do Podemos, filho do ex-presidente Álvaro Arzu, acusado de não ser idóneo por ter feito campanha eleitoral antes do período oficial.
A primeira excluída foi a dirigente indígena Thelma Cabrera, do Movimento de Libertação do Povo (MLP). O tribunal encontrou um pretexto, ao sustentar que o candidato a vice-presidente, o procurador de Direitos Humanos Jordan Rodes, não tinha atualizado o procedimento que permitiria ao magistrado participar, o que Rodas nega. O TSE inviabilizou a dupla em janeiro e nem uma intensa campanha internacional o dissuadiu.
É num quadro de regresso da corrupção à Guatemala - que chegou a ser distinguida pela ONU pelo combate que lhe empreendeu em tempos -, com o desmantelamento do sistema de combate pelo presidente cessante, Alejandro Giammattei, de Direita, e a perseguição a quem a investiga casos, com cerca de 40 magistrados e duas dezenas de jornalistas detidos ou foragidos para fora do país (síntese da BBC Mundo), que se realizam as eleições de amanhã.
Há também queixas de limitação à liberdade de imprensa. Em meados do mês, o ex-diretor do diário "el Periódico" foi condenado a seis anos de cadeia por alegada lavagem de dinheiro, uma acusação apontada como fabricada para silenciar as suas denúncias de corrupção.
A última sondagem publicada pelo diário "Prensa Libre" bafeja a empresária viúva do antigo presidente Álvaro Colom e fundadora do partido social-democrata Unidade Nacional Pela Esperança (UNE), Sandra Torres, 67 anos com 21,3%. Segue-se Edmond Mulet, 72 anos, advogado e ex-diplomata, fundador do partido Cabal (ou "exacto"), com 13,4%. Em terceiro lugar, com 9,1%, figura Zury Ríos, 55 anos, do Valor Unionista, de extrema-direita, defensora da pena de morte e outros retrocessos civilizacionais.
A filha do ditador condenado por genocídio
Se os candidatos afastados nas "eleições fabricadas pelo sistema", na expressão de Rogelio Núñez, investigador sénior do Real Instituto Elcano (Espanha), o foram por alegados problemas legais, à luz da Constituição, que o proíbe, Zury Ríos nem sequer poderia ser candidata, por ser filha de um ditador (entre 1982 e 1983, após um golpe de Estado), o general Efraín Ríos Montj, condenado por crimes contra a humanidade e pelo genocídio da minoria maia Ixil.
E Edmond Mulet esteve ligado ao envio de crianças para adotar fora do país mediante passaportes de turistas que ele asseverou ser uma forma legal.