Forças de Moscovo lançaram, esta quarta-feira, o maior ataque desde o início do conflito. Enquanto as negociações para uma trégua estão paralisadas, a guerra continua nos céus de ambos os países, com Kiev a recear que 1000 equipamentos não tripulados por dia contra o seu território sejam realidade em breve.
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A Rússia lançou um novo ataque recorde contra a Ucrânia na madrugada de quarta-feira, com 728 drones e 13 mísseis, segundo a Força Aérea ucraniana. O bombardeamento atingiu diversas localidades do país, mas a cidade mais afetada foi Lutsk, no Oeste. Em Donetsk, no Leste, oito civis foram mortos.
Enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a pedir uma maior pressão dos aliados contra a Rússia, o Ministério da Defesa de Moscovo disse que o ataque de “longo alcance” e “precisão” visou infraestruturas militares e que “todos os alvos designados foram destruídos”. A agressão surge um dia após os Estados Unidos reverterem a suspensão do envio de armas à Ucrânia – medida que a diplomacia russa avisa que “não facilitará uma solução pacífica do conflito”.
O uso de drones iranianos Shahed (cuja versão russa se chama Geran) e dispositivos chamarizes pela Rússia tem aumentado nas últimas semanas, numa tentativa de sobrecarregar os sistemas de defesa aérea da Ucrânia. Com negociações pausadas, Moscovo tem ignorado as ameaças de novas sanções e feito ataques cada vez maiores. Estes ocorrem após a operação ucraniana “Teia de Aranha”, no início de junho, que atingiu dezenas de aeronaves russas em bases militares até mesmo na Sibéria.
O comandante das Forças de Sistemas Não Tripulados da Ucrânia, Robert Brovdi, alertou, na sexta-feira, que “sob a pressão do crescente uso em massa pelo inimigo de um Shahed barato, mas acessível em todo o lado... Haverá 1000 unidades [lançadas] por dia e mais”. Os bombardeamentos russos têm feito Kiev ponderar a realocação da produção dos seus drones, segundo o jornal “The Kyiv Independent”.
O aumento da quantidade de drones é possível graças à produção dos Shahed em território russo, com uma alegada capacidade de produção de 5000 equipamentos por mês e com o uso de mão de obra oriunda de África e da Ásia, de acordo com a revista britânica “The Economist”.
Já a Ucrânia aumentou a produção de drones em 900%, ultrapassando a marca dos 200 mil mensais, segundo estudos pelo think tank Atlantic Council e pela revista académica “Georgetown Security Studies Review”, ambos dos EUA. Kiev tenta, desta forma, diminuir a desvantagem.
“Fizemos todo o trabalho de inovação dos drones como arma, mas não escalamos esta arma com a rapidez suficiente a nível industrial para que tivesse um efeito estratégico significativo. Fomos muito lentos”, admitiu ao jornal britânico “The Telegraph” um oficial não comissionado da 3.ª Brigada de Assalto Separada, conhecido como “Jackie”.
Equipamentos com fibra ótica
Uma novidade no campo de batalha que a Rússia tem utilizado mais recentemente são os drones FPV (visão na primeira pessoa) de fibra ótica. Este tipo de dispositivo, que tem tornado o Leste da Ucrânia num emaranhado de fios, permite que o operador receba uma imagem de melhor qualidade, não seja detetado por radiofrequência, consiga entrar em áreas sem perda de sinal e, principalmente, que não seja alvo de interferência eletrónica pelo inimigo.
Tais equipamentos, que começaram a ser utilizados no ano passado, foram essenciais para a retoma de Kursk pelas tropas russas. “A nossa logística simplesmente colapsou; os drones de fibra ótica estavam a monitorizar todas as rotas, não deixando qualquer forma de entregar munições ou provisões”, contou Dmytro, um médico ucraniano que combatia na cidade russa de Sudzha na altura, ao “The Kyiv Independent”.
A Ucrânia tem corrido atrás do prejuízo, testando os próprios drones de fibra ótica. Inicialmente, usavam bobinas de fibra ótica adquiridas através de sites chineses, mas as Forças Armadas de Kiev apresentaram, em fevereiro, uma bobina modular nacional de nome “Silkworm” (Bicho-da-seda). Como definiu Kyrylo Veres, comandante ucraniano do regimento K-2 de sistemas não tripulados separados, numa entrevista ao canal alemão Deutsche Welle, 2025 “será o ano da fibra ótica”.
Dispositivos portugueses com Kiev
No arsenal da Ucrânia há ainda, desde 2022, drones portugueses de vigilância e reconhecimento, os AR3 e AR5, da empresa Tekever, enviados “no âmbito de contratos estabelecidos com aliados europeus e parceiros institucionais”. Com mais de dez mil horas de operações no teatro de guerra ucraniano, os sistemas munidos de inteligência artificial auxiliam na “superioridade informacional”, explicou a fabricante ao JN, sem especificar volumes de vendas ou pormenores operacionais.
A produção e desenvolvimento estão concentrados em Portugal, com planos de expansão para os mercados britânico e francês.