A detenção de Ovidio Guzmán, filho de "El Chapo" e cabecilha de um dos mais conhecidos cartéis de droga do México, transformou a cidade de Culiacan num cenário de guerra, palco de intensos tumultos. Na terra, no ar e no mar, a violência não deu tréguas e ameaça agravar-se, caso o traficante não seja libertado. Para já, a extradição para os EUA está travada.
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Suspeito de ter liderado as operações do pai, desde que o famoso narcotraficante "El Chapo" foi extraditado para os Estados Unidos, em 2017, Ovidio Guzmán foi detido na quinta-feira, na cidade de Culiacan, noroeste do país, e levado para a Cidade do México num avião militar, ao fim de seis meses de uma investigação com vista à sua recaptura.
A megaoperação montada para deter "El Raton", como é conhecido no universo onde é rei, é indissociável de um balanço trágico: 29 pessoas, entre 10 soldados e 19 suspeitos de tráfico de droga, morreram e 35 militares ficaram feridos quando as forças de segurança tentavam chegar a Guzmán, que aos 32 anos herdou os comandos do cartel de Sinaloa, considerado o maior do mundo. "Dez militares infelizmente perderam a vida no cumprimento do dever", anunciou aos jornalistas o ministro da Defesa, Luis Cresencio Sandoval, dando conta também da morte de 19 "infratores" e da detenção de 21 pessoas.
Entretanto, um juiz federal concedeu a Guzmán (que já tinha sido detido em 2019) uma suspensão do processo de extradição para os EUA, pelo que não poderá ser entregue ao Governo norte-americano, que o quer por acusações de tráfico de droga, ficando para já à disposição da justiça mexicana.
Detenção gera caos nas ruas
A detenção de Ovidio abalou Culiacan, onde intensos tumultos pintaram um cenário apocalíptico na cidade, desde quinta-feira, a poucos dias de o presidente mexicano, Andrés Manuel Lopez Obrador, receber o homólogo norte-americano, Joe Biden, para uma cimeira de líderes da América do Norte, onde a segurança deve estar no topo da agenda. A imprensa do país dá conta de vários episódios de violência, entre rixas, tiroteios e incêndios, que geraram o caos nas ruas, levaram ao fecho das escolas e obrigaram à intervenção do Exército.
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Os motins estenderam-se ao aeroporto da cidade, onde um avião com destino à Cidade do México, que percorria o aeroporto de Culiacán, pronto para deslocar, foi cercado por vários aviões militares e atingido a tiros. Segundo a agência de notícias Reuters, os passageiros refugiaram-se no chão do avião, sem se aperceber do que acontecia do lado de fora, como se verifica em vídeos do momento publicados nas redes sociais.
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Imagens divulgadas na Internet, e cuja veracidade foi confirmada, mostram também um elemento do cartel a disparar contra um avião comercial, no ar.
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Guzmán já tinha sido detido mas foi devolvido ao cartel
O cenário de guerra que por estes dias aterroriza a população de Culiacan replica o que aconteceu em outubro de 2019, quando a Polícia deteve, pela primeira vez, Ovidio Guzmán. Na altura, os crimes cometidos pelos discípulos de "El Chapo" contra as forças de segurança deixaram o Governo entre a espada e a parede, que acabou por soltar Guzmán e devolvê-lo às ruas para travar a rebelião em curso. O desfecho pode repetir-se agora que o cartel de Sinaloa não dá sinais de tréguas e exige a libertação do líder.