O secretário-geral da ONU, António Guterres, reúne-se com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, esta quinta-feira. O encontro à margem da cimeira dos BRICS, na cidade russa de Kazan, é o primeiro entre o português e o líder do Kremlin desde abril de 2022, dois meses após o início da invasão da Ucrânia.
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Guterres chegou na quarta-feira ao fórum do grupo de países com economias emergentes, composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irão e Emirados Árabes Unidos. "Esta é uma reunião de grande importância para o trabalho das Nações Unidas, sendo que os países BRICS representam cerca de metade da população mundial", apontou Farhan Haq, porta-voz adjunto do secretário-geral, em declarações na terça-feira.
Apesar de o português ter "a oportunidade de realizar várias reuniões bilaterais com os líderes presentes na cimeira", o encontro com Vladimir Putin é "uma das principais razões para a sua presença", admitiu Haq. "O secretário-geral reafirmará as suas conhecidas posições sobre a guerra na Ucrânia e as condições para uma paz justa", salientou.
Outro tema na mesa será a liberdade de navegação no Mar Negro. Guterres, junto da Turquia, foi um dos principais mediadores do acordo de cereais, que permitiu que a Ucrânia exportasse os grãos por este mar. O pacto durou quase um ano, entre julho de 2022 e julho de 2023.
Kiev fala em "escolha errada"
A reunião de hoje é criticada por Kiev. "O secretário-geral da ONU recusou o convite da Ucrânia para a primeira cimeira de paz global na Suíça. No entanto, aceitou o convite para ir a Kazan do criminoso de guerra Putin", escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano. "Esta é uma escolha errada que não promove a causa da paz. Isso só prejudica a reputação da ONU", criticou a tutela.
O evento organizado pela Ucrânia em junho deste ano na Suíça não contou com a presença de Moscovo, não convidada para a cimeira. Apesar de 78 Estados e quatro organizações terem assinado o comunicado conjunto no encerramento de tal fórum, houve notáveis exceções. O México, a Arábia Saudita, a Indonésia, a Tailândia e membros dos BRICS, como o Brasil - que participou como observador -, a Índia e a África do Sul não apoiaram o texto final.
A União Europeia expressou confiança de que António Guterres "reforçará o apelo à Rússia para que se retire total e incondicionalmente da Ucrânia, seguido de uma cessação das hostilidades, tal como já expresso em várias resoluções". "O secretário-geral das Nações Unidas está ciente de que, desde a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, nas nossas relações diplomáticas não nos envolvemos com a Rússia, atual presidente dos BRICS, e quaisquer relações são mantidas ao mínimo", afirmou à agência Lusa Peter Stano, porta-voz de Bruxelas para os Negócios Estrangeiros.
Em abril de 2022, quando realizou visitas à Ucrânia e à Rússia, o português classificou a guerra como "um absurdo". Ao andar pelas ruas da cidade ucraniana de Bucha, onde diversos civis foram mortos e deixados nas ruas, Guterres declarou apoiar "plenamente o Tribunal Penal Internacional [TPI] e apelo à Federação Russa para que aceite cooperar com o Tribunal Penal Internacional". Após o mandado de prisão emitido em março de 2023, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral, disse que o ex-primeiro-ministro luso não pode comentar as ações do TPI, que é independente. "O secretário-geral falará sempre com quem precisar de falar para avançar", frisou.