Guterres sobre os oceanos: “Se estou totalmente feliz? Não, gostava que fosse mais rápido”
Os avanços nas ratificações do Tratado do Alto-Mar – 50 até ao momento – são promissoras, mas há questões “muito preocupantes”, uma delas “o impacto das alterações climáticas nos oceanos”, defendeu Guterres.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reconheceu esta segunda-feira que, apesar do grau de compromisso “inédito” demonstrado pelos países na terceira Conferência dos Oceanos, a decorrer em Nice, não está “totalmente feliz” com a ação global de preservação “da força vital do planeta”. “Gostava que fosse tudo mais rápido”, frisou, lamentando que o mar esteja a ser usado como recurso infinito como se não houvesse “consequências”.
“A poluição dos plásticos está a sufocar a vida marinha e a contaminar a cadeia alimentar, acabando no nosso sangue e até mesmo nos cérebros”, referiu, sublinhando que o “inimigo” tem um nome claro: “ganância”. Guterres defendeu ainda que a pesca sustentável não é apenas “uma escolha”, é “a nossa única opção”. “Isto implica uma cooperação global mais forte, uma fiscalização rigorosa contra a pesca ilegal e a expansão das áreas protegidas para proteger a vida marinha”, afirmou, assumindo que o impacto das alterações climáticas nos oceanos é outro dos aspetos “preocupantes”.
Ainda assim, mostrou-se satisfeito com o aumento do número de ratificações do Tratado do Alto-Mar, que passou de 32 para 50 desde o arranque do evento das Nações Unidas. Segundo anunciou ontem o presidente francês, Emmanuel Macron, até sexta-feira devem estar garantidas 55 ratificações, havendo outros 15 países comprometidos na aprovação do acordo até ao final do ano. Oficialmente designado de Acordo sobre Proteção da Biodiversidade Marinha em Áreas para além da Jurisdição Nacional (BBNJ, na sigla inglesa), o Tratado do Alto-Mar resultou de quase 20 anos de discussões, podendo ser implementado quando forem alcançadas 60 ratificações.
36 países proíbem mineração em mar profundo
Desde o início da Conferência do Oceanos, três países aprovaram moratórias sobre a mineração em mar profundo até 2050, num total de 36, na sequência do apelo dos cientistas, que reclamam a necessidade de mais estudos. Portugal foi o primeiro a fazê-lo, em março deste ano.