Há um século, um novo vírus atingiu os Estados Unidos no auge da Primeira Guerra Mundial. A infeção começou entre as tropas norte-americanas e resultou numa pandemia de gripe que matou 675 mil pessoas no país.
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Tal como o novo coronavírus, a rápida propagação da gripe de 1918 interrompeu a vida das pessoas de uma forma sem precedentes. Sobrecarregou os sistemas de saúde, esvaziou os espaços públicos e fechou locais de trabalho e eventos sociais.
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Como o presidente Donald Trump, o governo do presidente Woodrow Wilson minimizou a pandemia, escreve a CNN. E tal como Trump, que anunciou na sexta-feira que está infetado com o novo coronavírus, Wilson também foi infetado, assim como alguns dos seus assessores e funcionários mais próximos.
"Wilson nunca fez uma declaração pública sobre a pandemia. Nunca", afirmou John M. Barry, autor de "The Great Influenza: The Story of the Deadliest Pandemic in History". "Portanto, para manter a moral elevada durante a guerra, o governo mentiu", acrescentou Barry, em entrevista à CNN. "Os líderes nacionais de saúde pública disseram coisas como: 'Esta é uma gripe comum com outro nome'. Tentaram minimizar isso. Como resultado, mais pessoas morreram".
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Wilson já tinha uma guerra mundial com que se preocupar, tornando a pandemia uma reflexão tardia. "Ele tinha uma personalidade com TOC [transtorno obsessivo-compulsivo] e concentrou-se intensamente na guerra, ponto final. Nada o distraiu", explicou Barry.
Mas Howard Markel, médico e historiador de medicina da Universidade de Michigan, discorda de que Wilson minimizou a pandemia. O governo federal era tão pequeno naquela época, argumenta Markel, que tinha um papel limitado na saúde pública.
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Na altura, não havia agências federais de saúde, como os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças ou o National Institutes of Health. O papel do governo limitava-se à guerra, recolha de impostos e elaboração de leis federais, disse Markel à CNN. Já os governos locais desempenharam um papel fundamental nas questões de saúde.
Segundo a CNN, Wilson não era propriamente o melhor exemplo de saúde quando apanhou a gripe aos 63 anos. Antes da doença, o presidente norte-americano sofreu vários problemas de saúde, incluindo asma e AVC. Wilson apanhou a gripe em 1919 enquanto estava em Paris, onde passou vários meses a negociar o tratado de paz após a guerra.
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Wilson ficou doente e tossia tão fortemente que o seu médico pensou inicialmente que ele tinha sido envenenado numa tentativa de assassinato. O presidente começou a ter alucinações de que estava cercado por espiões. Mas a sua administração manteve a doença em segredo. Não havia televisão nem redes sociais naquela época, então não foi necessário um grande esforço.
"Ele [Wilson] pensava que os franceses estavam a espiá-lo. Se ele não fosse o presidente, completamente doente no meio de uma conferência de paz, poderia ter sido engraçado", disse John M. Barry.
Após a recuperação e regresso aos Estados Unidos, Wilson fez uma digressão nacional para angariar apoio para o seu tratado de paz. O presidente sofreu um AVC no final desse ano e morreu em 1924.