Os deslocamentos forçados aumentaram para um número recorde de 120 milhões de pessoas em todo o Mundo, até ao final de maio. Segundo dados divulgados pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), as guerras, a violência e as perseguições fazem com que o número não pare de subir.
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É o que acontece pelo 12.º ano consecutivo, na sequência de conflitos como em Gaza, no Sudão e em Mianmar, como refere o relatório anual da ACNUR. “A guerra continua a ser o motor dos deslocamentos em massa", disse o diretor da organização, Filippo Grandi, numa conferência de Imprensa que decorreu em Genebra, na Suíça.
Nos últimos meses, as estatísticas aceleraram e, no final do ano passado, o número de deslocados era de 117,3 milhões, mais dez milhões do que o registado no ano anterior. Em relação a 2012, o planeta tem quase o triplo de pessoas deslocadas e o número atual é já equivalente à população do Japão.
A ACNUR destaca que 23 milhões destas pessoas estão nas Américas, onde acontecem "movimentos mistos de pessoas refugiadas e migrantes sem precedentes, frequentemente ao longo de rotas extremamente perigosas".
No entanto, o Alto Comissariado regista avanços neste continente, com a adoção de "soluções para garantir a proteção, regularização e integração das pessoas". O relatório menciona os casos do Brasil, Colômbia, Peru e Equador, com "vastos programas de regularização para pessoas refugiadas e migrantes vulneráveis, garantindo documentação e acesso a serviços".
Os dados do relatório mostram que em 2023 o número de venezuelanos deslocados no exterior aumentou de 5,4 milhões para 6,1 milhões de pessoas, a maioria para outros países latino-americanos, como a Colômbia, que abriga 2,9 milhões de venezuelanos. O número deixa a Venezuela como o terceiro país com o maior número de deslocados no exterior, atrás apenas de Afeganistão e da Síria, e à frente da Ucrânia.
No ano passado, a ACNUR assinalou 43 situações de emergência em 29 países, ou seja, quatro vezes mais do que era habitual há alguns anos, insistiu o diretor da agência. Filippo Grandi atribuiu o aumento à "forma como os conflitos acontecem, com um desprezo total" pelo direito internacional e "muitas vezes com o objetivo concreto de aterrorizar a população".
"A menos que aconteça uma mudança na geopolítica internacional, infelizmente a minha previsão é de que este número continuará a aumentar", acrescentou.
O relatório dá ainda conta de que, no fim 2023, 68,3 milhões de pessoas estavam deslocadas dentro do seu próprio país. Já o número de refugiados e pessoas que precisam de proteção internacional também aumentou, sendo 43,4 milhões.
No relatório, o Alto Comissariado tenta mais uma vez desmentir a falsa perceção de que os refugiados e outros migrantes se dirigem quase sempre para os países ricos, já que a grande maioria é recebida em países vizinhos .
Grande parte do aumento do número de deslocados à força é provocado pela guerra civil no Sudão, iniciada em abril de 2023 e que causou a fuga de mais de nove milhões de pessoas. Os combates na República Democrática do Congo e em Mianmar também provocaram milhões de novos deslocados no último ano.
Na Faixa de Gaza, a ONU calcula que 1,7 milhão de pessoas (75% da população do território) foram deslocadas pela guerra entre Israel e o Hamas. A Síria continua a ter a maior crise do Mundo neste sentido, com 13,8 milhões de pessoas deslocadas à força dentro ou fora do país, segundo aquele organismo.