Comunidade negra e movimentos feministas do estado do Atlanta mobilizados para eleger a primeira mulher para a Casa Branca.
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Os condutores acenam e buzinam sempre que passam num cruzamento da Baixa de Atlanta, a algumas centenas de metros do Parque Histórico Martin Luther King, onde o líder da luta pelos direitos civis nasceu e está sepultado. Junto aos semáforos, duas mulheres negras agitam cartazes nos quais se lê “Vote today! Black voters matter” (Vote hoje! Os votantes negros contam) e “Your vote is your most powerful form of protest” (O seu voto é a sua forma mais poderosa de protesto).
Andrea McEachron realça a importância do voto, pelo facto de a população negra estar “constantemente sob ataque”. “Se Donald Trump tem um problema com a comunidade negra, nós também temos um problema com ele. Vamos mandá-lo para Mar-a-Lago ou para a prisão!”, garante Andrea.
A presença neste cruzamento não acontece por acaso. A alguns metros, localiza-se o Slutty Vegan, um restaurante fundado por uma mulher negra, que faz
questão de apoiar Kamala Harris, e que é palco de uma ação de campanha do movimento Win With Black Women, na tarde em que o JN passava na rua. A presidente da organização no estado da Geórgia, Melinda Weekes-Laidlow, fala em nome das “irmãs”: “Estamos todas ansiosas pela energia feminina e pela sabedoria que as mulheres têm, em especial as mulheres negras. Uma das coisas da liderança das mulheres negras é que trazemos sempre todos connosco”.
Como sinal de inclusão, uma das jovens trouxe a mulher mais velha deste grupo. Tranquilamente sentada numa cadeira de rodas, Marilyn Washington, 76 anos, assiste ao evento com olhar embevecido. Confessa que nunca imaginou viver o suficiente para ver uma mulher presidente e não tem dúvidas da conquista de Kamala Harris. “Ela tem o melhor plano para os EUA”, afirma Marilyn, que nem equaciona uma vitória de Donald Trump, porque o país “não seria o mesmo”.
Kamala Harris não podia ser mais diferente de Donald Trump. “É qualificada, tem capacidades, temperamento e é suficientemente inteligente para não dizer que vai ser apenas democrata. Está recetiva a trabalhar com aqueles que têm ideias [...] Por isso, estou orgulhosa dela”, destaca Andrea McEachron. “O facto de ser mulher, de descendência negra, da Jamaica, e asiática, da mãe indiana, é a cereja no topo do bolo”, conclui.
Na ação de campanha dominada pelas mulheres, a proprietária da cadeia de restaurantes Slutty Vegan, Pinky Cole, recorda que o negócio nasceu de um sonho em Atlanta e hoje emprega centenas de pessoas em todo o país.
Nas eleições, Pinky Cole quer concretizar outro sonho, o de ver uma mulher negra na presidência dos EUA. “As mulheres merecem este momento, merecem concretizar o sonho, porque isto é muito mais do que as mulheres negras, muito mais do que se possa imaginar”, declara Pinky Cole, enquanto outra oradora entoa o gospel “Can’t give up now” (Não podemos desistir agora), com um coro afinado de vozes femininas. “Ninguém disse que o caminho seria fácil, mas não acredito que Ele me tenha trazido tão longe para me abandonar. Ámen!”, rematam em uníssono.