O Governo da Faixa de Gaza, controlado pelo movimento Hamas, acusou Israel de reduzir a "zona humanitária" costeira de Mawasi, classificada em novembro pelo Exército como refúgio seguro para civis, de 230 para 36 quilómetros quadrados.
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"O Exército de ocupação israelita está a asfixiar intencionalmente 1,7 milhões de civis palestinianos e a comprimi-los numa zona estreita que não tem mais que um décimo do tamanho da Faixa de Gaza", denunciou o Governo do enclave palestiniano num comunicado.
Na nota, as autoridades de Gaza recordaram que, em novembro do ano passado, Israel designou a região sul da Faixa de Gaza (o que incluía a cidade de Rafah) como "um espaço humanitário seguro", com uma superfície de 230 quilómetros quadrados, o que equivalia a 63% da superfície total do enclave.
Um mês depois, com a primeira ofensiva israelita à cidade meridional de Khan Yunis, a "área segura" foi reduzida para 140 quilómetros quadrados.
Em maio, aconteceu o mesmo, com a agressão das forças israelitas à cidade de Rafah, fronteiriça com o Egito, ainda em curso após mais de três meses: a "zona humanitária" foi então reduzida para cerca de 79 quilómetros quadrados, o que representa apenas 20% do território do enclave.
Desde o início do verão, as tropas israelitas não só regressaram a zonas que tinham anteriormente abandonado, como Khan Yunis, como também atacaram outros pontos, como a localidade de Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, importante ponto de acolhimento de deslocados e centro de operações de numerosas organizações humanitárias.
As incursões e as ordens de evacuação acabaram por reduzir a "zona segura" (onde, de qualquer maneira, há ataques intermitentes de Israel) aos atuais 36 quilómetros quadrados, que correspondem a 9,5% da superfície total da Faixa de Gaza.
No resto do enclave, que inclui as províncias da cidade de Gaza e do Norte de Gaza, não existem "zonas humanitárias" equivalentes à do sul do território, apesar de 700 mil palestinianos continuarem a residir ali, segundo o Hamas.
Até agosto, a cidade de Deir al-Balah não tinha sido alvo de uma ofensiva terrestre em grande escala, como as que sofreram outras grandes cidades do enclave palestiniano.
O Exército israelita justificou as novas incursões afirmando que, nesses locais, o Hamas estava a reorganizar-se e a disparar projéteis contra o seu território.
Israel declarou a 7 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1194 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 111 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 320.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 40.223 mortos (quase 2% da população) e 92.981 feridos, além de mais de dez mil desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após mais de dez meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também cerca de 1,9 milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.