O grupo islamita palestiniano Hamas negou a autoria de um ataque contra militares israelitas na Faixa de Gaza e reiterou o compromisso com o cessar-fogo no território, que esta terça-feira foi bombardeado por Israel.
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Num comunicado publicado na rede social Telegram, o Hamas considerou a resposta militar de Israel a um alegado ataque contra as suas forças em Rafah, no sul do enclave palestiniano, como uma "violação flagrante" do acordo de cessar-fogo, em vigor desde 10 de outubro.
"O Hamas afirma não ter qualquer ligação com o tiroteio em Rafah e reafirma o seu compromisso com o acordo de cessar-fogo", declarou o grupo que controla as autoridades na Faixa de Gaza.
Em resposta ao suposto ataque, as forças israelitas lançaram bombardeamentos na região de Rafah, sob a mesma acusação de que a trégua tinha sido quebrada, a segunda no mesmo dia dirigida por Telavive contra o Hamas, após um incidente relacionado com a entrega do corpo de um refém na segunda-feira à noite.
De acordo com as autoridades israelitas, os restos mortais devolvidos pelo Hamas pertenciam a um antigo refém já recuperado e sepultado há quase dois anos e não a um dos 13 corpos ainda por entregar ao abrigo do cessar-fogo.
No seguimento deste caso, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, convocou responsáveis do setor da segurança e ordenou "fortes ataques" de imediato na Faixa de Gaza, que segundo as autoridades do território, já provocaram pelo menos nove mortos e 12 feridos.
No seu comunicado, o Hamas acusou Israel de uma série de violações da trégua nos últimos dias, incluindo ataques que causaram mortos e feridos, bem como o encerramento da passagem de Rafah, entre o enclave palestiniano e o Egito.
Para o grupo islamita, as ações de Israel confirmam a sua "insistência em violar os termos do acordo e tentar sabotá-lo".
O Hamas instou os mediadores internacionais - Egito, Qatar e EUA - a tomarem medidas imediatas para pressionar Israel, travar a sua "escalada brutal contra a população civil" na Faixa de Gaza e responsabilizar as autoridades de Telavive.
Após a vaga de bombardeamentos israelitas, a Defesa Civil da Faixa de Gaza indicou que cinco pessoas, entre as quais duas crianças, foram mortas hoje em Khan Yunis, no sul do território palestiniano, juntando-se a outras quatro na cidade de Gaza.
O diretor do hospital Al-Shifa, o maior da cidade de Gaza, revelou pelo seu lado a existência de 12 feridos, incluindo cinco crianças, que deram entrada na unidade hospitalar Batista al-Ahli, também na capital do território.
Ao longo do dia, o Governo do território já tinha acusado Israel de cometer mais de 125 violações desde que a trégua entrou em vigor, incluindo bombardeamentos, tiroteios e detenções.
No total, Israel matou 94 habitantes e feriu mais de 300 desde 10 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde do território.
Cessar-fogo em curso
No âmbito do cessar-fogo, o Hamas devolveu os últimos 20 reféns vivos que mantinha no enclave palestiniano, mas apenas 15 dos 28 que estavam mortos, alegando dificuldades em encontrar os corpos entre os escombros do território devastado por mais de dois anos de conflito. Em troca dos reféns, Israel libertou quase dois mil presos palestinianos e entregou 195 corpos.
A primeira fase do acordo prevê a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território.
A trégua já tinha sido testada pela violência na Faixa de Gaza em 19 de outubro, a mais grave desde que entrou em vigor.
Em retaliação à morte a tiro de dois soldados, Israel realizou então intensos ataques aéreos no território, acusando o Hamas de violar o cessar-fogo.
O grupo palestiniano negou e, por sua vez, devolveu a acusação a Israel, numa pretensa busca de "pretextos para bombardear".
A etapa seguinte do entendimento, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
