O movimento islamita Hamas pediu mais tempo para encontrar os corpos dos reféns que ainda não foram devolvidos a Israel, na sequência do acordo de cessar-fogo assinado sob mediação dos EUA. Foram libertados a tempo os últimos 20 reféns vivos, mas menos de metade do 28 mortos que se comprometeu a devolver a Israel, por dificuldades em localizá-los nos escombros causados pela invasão israelita.
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Insistindo que quer cumprir a sua parte do acordo no que concerne à devolução dos cadáveres, na sexta-feira à noite, foi entregue mais um corpo e as agências internacionais divulgaram imagens que mostram maquinaria pesada, naquilo que parecem ser escavações à procura dos reféns. Acusado por Israel de violar os termos da trégua implementada a 10 de outubro, o Hamas pediu mais tempo. "O processo de restituição dos corpos dos prisioneiros israelitas pode levar algum tempo", anunciou no Telegram o grupo, que governa Gaza desde 2007.
No comunicado, o Hamas reiterou o "compromisso" com o cessar-fogo e a devolução dos restos mortais, mas afirmou que recuperar os corpos restantes requer equipamentos especiais. A Turquia enviou uma equipa de especialistas em buscas de corpos em zonas de desastre para ajudar a localizar os reféns, mas permanecem na fronteira egípcia, enquanto aguardam autorização israelita para entrar em Gaza. A equipa de 81 profissionais possui ferramentas especializadas e cães treinados para procurar corpos. Uma fonte do Hamas disse à AFP esperar que a equipa turca entre em Gaza ainda hoje, quando está prevista a abertura da passagem de fronteira.
Apesar de ter deixado uma ameaça no ar, devido às execuções que o Hamas tem conduzido para reconquistar o controlo do território, Donald Trump parece confiar na palavra do grupo e estar a tentar que Israel não volte atrás no processo de cessar-fogo. "É um processo macabro [...] mas estão a cavar, a cavar de verdade" e "encontram muitos corpos", afirmou na última semana. A Defesa Civil de Gaza, sob a autoridade de Hamas, informou que foram recuperados mais de 280 corpos, não apenas de israelitas, entre os escombros desde o início do cessar-fogo.
O Ministério da Saúde palestiniano anunciou hoje também ter recebido 15 cadáveres que estavam detidos em Israel, no âmbito do acordo de cessar-fogo em Gaza, sublinhando que os corpos mostram sinais de "abusos e espancamentos". "O Ministério da Saúde [de Gaza] anuncia a receção de 15 corpos de mártires libertados hoje pela ocupação israelita e pela Cruz Vermelha, elevando o número total de corpos recebidos para 135", informou o Governo palestiniano, controlado pelo grupo islamita Hamas, em comunicado.
Israel mata nove pessoas que procuravam a casa
As forças israelitas mataram nove membros de uma única família palestiniana ao disparar contra um autocarro, na sexta-feira, em que seguiam para procurar a casa onde viviam antes de serem obrigados a sair, devido à invasão israelita. Os militares confirmaram que tinham como alvo um veículo que cruzou a chamada "linha amarela".
"As equipas de defesa civil conseguiram recuperar nove corpos após o ataque da ocupação israelita a um autocarro que transportava pessoas deslocadas a leste do bairro de Zeitun", disse à AFP Mahmud Bassal, porta-voz da agência de Defesa Civil, que opera sob a autoridade do Hamas, neste sábado. Segundo Bassal, as vítimas pertenciam à família Abu Shabaan e foram mortas quando "tentavam ir ver a sua casa" no bairro de Zeitun. Vários habitantes de Gaza que falaram com a AFP disseram que não conseguiam localizar as suas casas - ou mesmo pontos de referência familiares - em bairros agora enterrados sob os escombros de edifícios desmoronados e detritos.
O exército israelita disse que foi identificado um veículo a atravessar a "linha amarela", a fronteira atrás da qual as tropas israelitas estão estacionadas ao abrigo do acordo de cessar-fogo com o Hamas. "As tropas dispararam tiros de advertência contra o veículo suspeito, mas o veículo continuou a aproximar-se das tropas de uma forma que causou uma ameaça iminente", explica um comunicado. "As tropas abriram fogo para eliminar a ameaça, em conformidade com o acordo".
O cessar-fogo entre as forças israelitas e o Hamas está na segunda semana, mas foram registados vários incidentes desde o seu início, com os militares a afirmarem que as suas tropas dispararam contra indivíduos que se aproximaram ou atravessaram a "linha amarela". Centenas de milhares de palestinianos regressaram ao norte de Gaza em busca das casas desde o início do cessar-fogo, muitas vezes com dificuldades em encontrá-las no meio da vasta devastação deixada por mais de dois anos de guerra.