Hardeep Singh Nijjar: o homicídio do líder sikh que espoletou a crise entre Canadá e Índia
Dias após o primeiro-ministro canadiano acusar Nova Deli de estar por trás do assassinato de um líder sikh, a Índia suspendeu esta quinta-feira os serviços de processamento de vistos no Canadá. A medida é mais uma resposta do Governo indiano, que rejeita a responsabilização. Mas afinal, quem era Hardeep Singh Nijjar?
Corpo do artigo
O líder da comunidade sikh, nascido em 1977 no estado do Punjab, no Norte da Índia, mudou-se para o Canadá em 1997, onde casou, teve dois filhos e trabalhou como canalizador. Comandava um templo sikh em Vancouver e era considerado desde 2020 um terrorista por Nova Deli por causa de alegadas ligações a um grupo separatista.
"Isso é um lixo – todas as acusações. Estou a morar aqui há 20 anos, certo? Veja meu histórico. Não há nada. Eu sou um trabalhador esforçado", afirmou Nijjar numa entrevista ao jornal "Vancouver Sun", em 2016. O líder sikh disse que estava muito ocupado, na época, para lidar com a política da diáspora.
A comunidade sikh, minoria etnorreligiosa de 2% na Índia, com cerca de 28 milhões de pessoas, está concentrada no Punjab. O grupo procura a independência da região, num país que se chamaria Calistão.
Nijjar fazia parte da maior diáspora sikh fora da Índia, já que mais de 770 mil pessoas da comunidade vivem no Canadá. O líder foi assassinado a tiro, a 18 de junho, por homens encapuzados que o atacaram quando se encontrava numa carrinha estacionada do lado de fora do templo que comandava.
Após meses de investigações, o primeiro-ministro canadiano chegou a falar sobre o episódio com o homólogo indiano durante a cimeira do G20, em Nova Deli, no início de setembro. Narendra Modi, conhecido pela plataforma do nacionalismo hindu, rejeitou a responsabilização.
As acusações tornaram-se públicas esta segunda-feira, quando Justin Trudeau discursou no Parlamento, em Otava. A diplomacia canadiana expulsou um alto diplomata indiano e a Índia respondeu do mesmo modo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Nova Deli classificou as acusações como um "absurdo".
As operações relacionadas com vistos foram suspensas esta quinta-feira, por tempo indeterminado, em todo o Canadá devido a "razões operacionais", argumentou a empresa BLS, responsável pelo serviço. No dia anterior, o MNE indiano aconselhou aos nacionais terem o "máximo cuidado" enquanto estiverem a viajar pelo país da América do Norte por causa da "agenda anti-Índia".
Otava procura aliados
O Reino Unido não criticou ainda publicamente a Índia. A diplomacia britânica destacou o foco na continuidade das conversações bilaterais relativas às trocas comerciais.
“A menos que haja qualquer prova definitiva do envolvimento da Índia, penso que a resposta do Reino Unido provavelmente permanecerá silenciosa”, salientou Chietigj Bajpaee, especialista em Índia durante a realização de um laboratório de ideias em Londres, citado pela agência Reuters. O analista refere a vontade britânica de aproximar-se comercialmente dos indianos, além de manter uma aliança de ambos no antagonismo à China.
Já a Casa Branca está "profundamente preocupada" com as acusações, declarou na quarta-feira o porta-voz de segurança nacional, John Kirby. "Encorajamos a Índia a cooperar totalmente [com as investigações]", acrescentou.