A universidade de elite norte-americana de Harvard arrisca perder milhares de milhões de dólares em financiamento federal, ao rejeitar uma lista de exigências abrangentes que a administração Trump disse que se destinam a reprimir o antissemitismo no campus.
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O pedido de alterações à sua governação, práticas de contratação e procedimentos de admissão expande uma lista que Harvard recebeu a 3 de abril, que ordenava aos funcionários que encerrassem os gabinetes de diversidade e cooperassem com as autoridades de imigração para o rastreio de estudantes internacionais.
O presidente da universidade, Alan Garber, prometeu, numa carta dirigida aos estudantes e professores, desafiar o Governo, insistindo que a escola não iria "negociar a sua independência ou os seus direitos constitucionais".
No ano passado, os campus universitários de todo o país foram abalados por protestos estudantis contra a guerra de Israel em Gaza, alguns dos quais resultaram em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes pró-Israel.
Trump e outros republicanos acusaram os ativistas de apoiarem o Hamas, um grupo terrorista designado pelos EUA, cujo ataque mortal a 7 de outubro de 2023 contra Israel desencadeou o conflito. "Embora algumas das exigências delineadas pelo Governo visem combater o antissemitismo, a maioria representa uma regulamentação governamental direta das condições intelectuais em Harvard", escreveu Garber.
O Departamento de Educação anunciou em março que tinha aberto uma investigação a 60 faculdades e universidades por alegado "assédio e discriminação antissemitas".
A carta de Garber surgiu após a administração ter colocado sob análise 9 mil milhões de dólares de financiamento federal a Harvard e às suas filiais, fazendo as suas primeiras exigências. Na sexta-feira, o governo enviou a Harvard uma lista muito mais pormenorizada, que a universidade tornou pública, exigindo uma “auditoria” das opiniões dos estudantes e do corpo docente.
"Antissemitismo furioso"
Garber disse que a escola estava “aberta a novas informações e perspectivas diferentes”, mas não concordaria com exigências que “vão além da autoridade legal desta ou de qualquer administração”.
“Nenhum Governo - independentemente do partido que está no poder - deve ditar o que as universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e que áreas de estudo e investigação podem seguir”, disse Garber.
A congressista republicana Elise Stefanik, elogiada por Trump no ano passado por questionar agressivamente as universidades sobre o antissemitismo, pediu que Harvard fosse desfinanciada, chamando-lhe "o epítome da podridão moral e académica no ensino superior".
Stefanik, de Nova Iorque, considerada uma das maiores defensoras de Israel e das causas judaicas dos EUA no Congresso, acusou a universidade de tolerar um "antissemitismo furioso".
A resposta de Harvard às exigências da Casa Branca contrastou fortemente com a abordagem adotada pela Universidade de Columbia, o epicentro dos protestos pró-palestinianos do ano passado. A administração Trump cortou 400 milhões de dólares em subsídios à escola privada de Nova Iorque, acusando-a de não ter protegido os estudantes judeus do assédio, enquanto os manifestantes se reuniam contra a ofensiva de Israel em Gaza.
Columbia respondeu concordando em reformar os procedimentos disciplinares dos estudantes e em contratar 36 agentes para aumentar a sua equipa de segurança. Para além do corte de verbas, os agentes de imigração visaram um dos líderes dos protestos pró-palestinianos em Columbia, Mahmoud Khalil, prendendo-o e pressionando a sua deportação.