Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, faz este sábado 100 anos.
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Com 46 anos de lapso, o académico argentino Carlos E. Pérez Llana cunhou duas sínteses do perfil do mais famoso secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, que hoje completa 100 anos: "Estratega obcecado" e "o mais ativo arquiteto da política externa dos Estados Unidos". A primeira está numa análise ao "legado" de Kissinger na revista "Estudios Internacionales" da Universidade do Chile (janeiro/março de 1977). A outra abre um artigo no diário argentino "Clarín" do dia 19.
Heinz (nome original) Alfred Kissinger nasceu em 27 de maio de 1923 em Fürth, na Alemanha, de onde fugiu com a família, em 1938, às perseguições nazis aos judeus. Naturalizado norte-americano em 1943, Henry Kissinger serviu no Exército dos EUA na II Guerra Mundial, integrando, na Alemanha, os serviços de informações militares.
Desanuviamento
De regresso aos EUA, conclui o doutoramento (1954) na Universidade de Harvard, onde se torna professor até 1969. Em 1956 integra um centro de estudos da Fundação Nelson Rockefeler. Entre 1955 e 1968, é consultor de segurança em diversas agências governamentais, tornando-se assistente do presidente norte-americano entre janeiro de 1969 e novembro de 1975, tendo presidido ao Conselho Nacional de Segurança.
Antes de ascender a secretário de Estado (22 de setembro de 1973 a 20 de janeiro de 1977), é obreiro na distensão das relações dos EUA com a União Soviética, com a negociação dos acordos de armas estratégicas (tratados SALT, de 1969 a 72), e com a China, logrando a primeira visita de um presidente americano, Richard Nixon, em 1972.
É dessa época o seu papel nas negociações da paz no Vietname com o cessar-fogo assinado em 1973, embora a guerra tenha terminado dois anos depois, e carregue a responsabilidade de bombardeamentos sobre o Laos e o Camboja que custaram centenas de milhares de vidas de civis. Em 1973, foi-lhe atribuído o Nobel da Paz por aquelas negociações, mas o negociador norte-vietnamita, Le Duc Tho recusou o prémio.
Em setembro de 1970, Nixon está no "Comité 40", estrutura da Casa Branca destinada a travar o avanço do comunismo no mundo, que começa a preparar operações da CIA no Chile, de desestabilização contra o presidente socialista Salvador Allende e de intervenção militar, que culminam com o golpe de 11 de setembro de 1973.
"Não percebo por que havemos de ficar a ver um país tornar-se comunista por causa da irresponsabilidade do seu povo", argumentava.
Contra o PCP no Governo
A Revolução de 25 de abril de 1974 em Portugal deixa Kissinger furioso com a "presença de comunistas no Governo de um país da NATO", pressiona as novas autoridades a afastar o PCP e influencia a formação da "frente não comunista".
Destacado para Lisboa como embaixador, o veterano em "revoluções" Frank Carlucci recebe ordens expressas para "deter o avanço dos comunistas e preservar a integridade da NATO". Ambos estão associados a ações contra a Esquerda e na preparação, pelo menos desde setembro de 1975, de um plano internacional (Callaghan) para apoio militar às forças de Direita e "moderadas" em caso de confrontação armada.
Com independência de Timor-Leste, os EUA temem que a ilha se torne a "Cuba da Ásia" e dão luz-verde à invasão indonésia, em dezembro de 1975. Mais de 300 mil pessoas foram assassinadas.
Após a saída do Governo, Kissinger dedicou-se à consultadoria, a palestras e a escrever livros, além de ser membro de vários órgãos consultivos da Casa Branca e de grupos privados.
Em 1984, presidiu à Comissão Nacional Bipartida para a América Central, para tratar do apoio aos países sob o risco de avanço do comunismo.
Em 2002, foi nomeado presidente da comissão encarregada de apurar as falhas no Governo na prevenção dos ataques de 11 de setembro de 2001, mas renunciou, devido à suspeita de colisão de interesses com a sua atividade privada.