Pacientes presos a uma cama durante semanas, fechados a chave no quarto dias a fio e expostos a agressões sexuais. Uma investigação do Defensor do Povo, uma espécie de provedoria de Justiça em Espanha, expôs as más práticas de um hospital psiquiátrico na Galiza. A empresa que o gere refuta as críticas.
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Entre os casos mais graves expostos no relatório, dado a conhecer pelo jornal espanhol "El País", está o de uma mulher que afirma ter sido agredida sexualmente por um funcionário e por um paciente. Os inspetores descobriram a denúncia na ficha clínica do homem, mas nos relatórios da vítima não há registo das agressões.
“Apesar das lacunas no conhecimento da realidade descrita, é inquestionável que na enfermaria psiquiátrica é necessário ser extremamente rigoroso na deteção de casos de eventual agressão sexual, pondo em prática os procedimentos necessários à investigação dos factos e proporcionando a correspondente proteção”, detalha-se, explicando que na instituição os casos não merecem a devida atenção e acompanhamento.
O La Robleda, gerido pelo grupo Hestia Alliance, com sede em Barcelona, tem câmaras de vigilância no quarto dos pacientes, o que, de acordo com o organismo, viola o direito de privacidade dos doentes internados, que ficam hospitalizados muito mais tempo do que seria aconselhável. Uma paciente está ali internada há 11 anos, de forma compulsiva, "um prazo injustificável, já que nenhuma doença mental resulta em descompensações que duram tanto tempo", aponta-se.
Doentes mentais presos dias a fio
A investigação deu também conta de que no hospital psiquiátrico abusa da contenção mecânica, isto é, os doentes são frequentemente amarrados, sem que isso conste no expediente. Não há registo de quando foram imobilizados, de quem o fez e do porquê, nem de quando deixaram de estar amarrados.
Os inspetores apontaram que os doentes são amarrados durante dias no quarto onde vivem e dizem que esta "uma das realidades de maior gravidade" que encontraram no hospital, que pode inclusive contribuir para a vivência de episódios traumáticos pelos doentes.
Sem um protocolo interno que dê seguimento às queixas de maus-tratos e a funcionar com um sistema disciplinar de "castigos pouco terapêuticos", o La Robleda é ainda arrasado por privar os pacientes do acesso à tecnologia. Não podem aceder a computadores ou tablets pessoais, e também não há qualquer equipamento destes disponível para uso comum.
O grupo Hestia Alliance, que detém no total 14 centros clínicos e de saúde mental, na Catalunha, Madrid, Galiza e Baleares, afirma que toda a sua atividade se realiza no cumprimento de "critérios de supervisão médica", e que as inspeções realizadas pelas autoridades municipais, que supervisionam o funcionamento dos espaços têm obtido resultados "muito satisfatórios".