Várias entidades europeias já reagiram às buscas feitas pelas autoridades belgas no âmbito de uma investigação de corrupção no Parlamento Europeu envolvendo lobistas da chinesa Huawei, que tem também ramificações em Portugal.
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Em causa está uma investigação que visa as práticas em Bruxelas, desde 2021, de lobistas ligados ao grupo chinês de telecomunicações Huawei. A investigação suspeita que tenha havido transferências feitas “para um ou mais deputados europeus através de uma empresa portuguesa”. Nenhum eurodeputado foi ainda identificado nesta operação.
A alegada corrupção neste caso envolveu presentes de valor (incluindo smartphones Huawei), bilhetes para jogos de futebol (a Huawei tem um camarote privado no Lotto Park, o estádio do RSC Anderlecht) ou transferências de alguns milhares de euros. De acordo com o código de conduta dos eurodeputados, qualquer objeto oferecido por um terceiro de valor superior a 150 euros deve ser declarado e inscrito publicamente no registo de ofertas.
Numa breve reação, o Parlamento Europeu disse que "toma nota das informações" e acrescentou que "quando necessário, coopera totalmente com as autoridades judiciais". A instituição não foi alvo de buscas.
Por sua vez, a Comissão Europeia decidiu não comentar o caso de alegada corrupção no Parlamento Europeu, lembrando apenas a restrição aplicada à empresa nas redes de quinta geração (5G). “Não temos rigorosamente nenhum comentário a fazer sobre esta investigação. Permitam-me, no entanto, recordar que a segurança das nossas redes 5G é obviamente crucial para a nossa economia e é por isso que, na nossa comunicação de 2023, a Comissão avaliou que a Huawei representa riscos materialmente mais elevados do que outros fornecedores”, disse o porta-voz da instituição para a soberania tecnológica, Thomas Regnier.
Falando na conferência de imprensa diária do executivo comunitário, Thomas Regnier acrescentou: “É por isso que a Comissão considera que os Estados-membros podem adotar decisões que restrinjam ou excluam a Huawei das suas redes 5G”. “Isto estaria em linha com a nossa caixa de ferramentas para o 5G. Agora, instamos todos os Estados-membros a tomar medidas porque a falta de ação rápida exporia a UE como um todo a um risco claro”, alertou ainda o responsável.
Já a Transparência Internacional acusou o Parlamento Europeu de ter adotado “medidas cosméticas” para combater a corrupção. “As novas alegações de suborno hoje divulgadas no Parlamento Europeu mostram como este não conseguiu retirar quaisquer lições significativas dos seus anteriores escândalos de corrupção”, referiu a TI, em comunicado.
O movimento global que trabalha em mais de 100 países para acabar com a injustiça da corrupção acrescentou ainda que os eurodeputados “em vez de optarem por uma mudança significativa” adotaram, após o escândalo de corrupção Qatargate, que abalou a instituição em 2022, ”reformas fracas e cosméticas que não conseguem evitar novos casos de corrupção”, considerando que esta nova suspeita “não é, portanto, uma surpresa”.
PGR e PJ confirmam buscas em Portugal
A Polícia Judiciária confirmou estar a colaborar com as autoridades belgas, mas não acrescentou mais pormenores.
Também a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a realização de buscas em Portugal no âmbito de uma investigação das autoridades belgas por alegada corrupção no PE envolvendo lobistas da chinesa Huawei. "Confirma-se a realização de buscas no âmbito de uma DEI (Decisão Europeia de Investigação) emitida pelas autoridades belgas", referiu fonte oficial do organismo liderado por Amadeu Guerra.