O novo documentário "Perdidos na Selva", que se estreia no National Geographic Portugal a 13 de setembro, mostra em imagens e entrevistas inéditas sobre como quatro crianças sobreviveram sozinhas na Amazónia após um acidente aéreo que matou todos os adultos.
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Realizado pelo duo por trás de "Free Solo", Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, em conjunto com Juan Camilo Cruz, o filme reconstitui de forma cronológica o acidente de avião, as buscas na selva amazónica da Colômbia e o resgate considerado milagroso das crianças Mucutuy, quando estavam a poucas horas de morrer de malnutrição.
"Foi uma história muito complicada de contar, não só porque há tantas partes envolvidas com diferentes pontos de vista mas também pelo desafio de ter acesso às crianças, porque era essencial incluir as suas vozes no filme", disse à Lusa a realizadora E. Chai Vasarhelyi.
A equipa trabalhou com os psicólogos que têm ajudado as crianças desde o resgate, em 2023, para conseguir que Lesly - a filha mais velha. de 13 anos, que assegurou a sobrevivência dos irmãos de 9, 4 e 1 ano - contasse a sua história sem infligir novo trauma.
Mas a audiência não vê as crianças sentadas numa cadeira a responder a perguntas. O documentário usa desenhos e animação para ilustrar o relato de Lesly, da qual se ouve a voz a narrar os acontecimentos.
Trauma e fome
"São crianças e a sua memória está entrelaçada com trauma, além de que estavam esfomeadas. É complicada a forma como se lembram das suas vidas", explicou a realizadora. "Usámos animação porque dá à audiência uma forma de imaginar a experiência pelos olhos das crianças".
Os irmãos, parte de uma família indígena, seguiam num pequeno avião, com a mãe, da aldeia Araracuara em direção à cidade de San José del Guaviare, onde iam morar com o pai dos dois mais novos.
O acidente matou a mãe, o piloto e o copiloto, mas as quatro crianças sobreviveram. Lesly, que ficou ferida na queda, carregou o bebé de um ano, improvisou abrigos e alimentou os irmãos com fruta durante 40 dias até serem encontrados.
"O que nos inspirou foi a coragem individual de Lesly e como ela, no pior momento da sua vida, conseguiu encontrar a coragem para encarar as coisas horríveis que lhe aconteceram e encontrar a esperança e capacidade de sobreviver e garantir que os irmãos sobreviviam", salientou Vasarhelyi.
Durante esse tempo, equipas de resgate constituídas por indígenas conhecedores da selva e militares do exército colombiano - historicamente em oposição - trabalharam para seguir pistas e encontrar as crianças na densa selva amazónica.
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O documentário mostra imagens das buscas e entrevistas com intervenientes de ambos os lados, incluindo o pai das crianças, Manuel Ranoque, que mais tarde foi preso por denúncias de violência doméstica antes do acidente.
Segundo o realizador Juan Camilo Cruz, as comunidades indígenas que participaram no documentário ficaram satisfeitas com o resultado final. "Sentem que a selva, o seu conhecimento e experiência foram bem representados", afirmou.
O filme aborda diferentes crenças e, entre elas, elementos sobrenaturais que fazem parte da experiência dos indígenas e da sua relação com a selva.
"Quando chegámos à Amazónia, a primeira coisa que fizemos foi pedir permissão aos indígenas e à selva para estarmos ali a trabalhar", contou Juan Camilo Cruz. "Foi uma experiência bonita, porque nos aceitaram", continuou. "É uma situação mágica e estranha, e percebemos que há ali algo que vai além da nossa capacidade de entender o que a selva é".
"Perdidos na Selva" estreia no National Geographic no sábado, 13 de setembro. Estará também disponível no Disney+ Portugal.
A dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi recebeu um Oscar em 2019 por "Free Solo", que teve a participação dos portugueses Joana Niza Braga e Nuno Bento na equipa de som.