Os imãs das principais mesquitas de França condenaram, esta sexta-feira, os atos de violência cometidos em nome do Islão, dois dias depois do ataque no jornal satírico francês "Charlie Hebdo", seguido de um sequestro nos arredores de Paris.
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Em Paris, a mesma mensagem reproduzia um apelo dos representantes da comunidade muçulmana, com cerca de cinco milhões de elementos, que tinham pedido aos imãs de mais de 2.300 mesquitas para se demarcarem dos jiadistas.
"Condenamos com forte determinação os crimes hediondos cometidos por terroristas, cuja ação criminal arrisca-se a comprometer a nossa vontade de vivermos juntos", afirmou o responsável da Grande mesquita de Paris, Dalil Boubakeur.
Este responsável lançou um apelo "solene" a "todos os muçulmanos em França" para que participem em massa nas manifestações convocadas para domingo em homenagem às vítimas do ataque de quarta-feira ao Charlie Hebdo, que, com 12 mortos, foi o mais sangrento dos últimos cinquenta anos em França.
Nas mesquitas de bairro, os imãs condenaram os jiadistas que afirmaram quererem vingar o profeta Maomé, ao assassinarem os ilustradores do jornal satírico.
"As pessoas que lançaram um ataque em nome do Islão não são muçulmanas (...). O profeta não defende a violência contra os não-muçulmanos", afirmou Abdel Qader Achour na mesquista fundamentalista Omar Ibn al Khattab, em Paris.
"França é o nosso país, estamos aqui há três ou mesmo quatro gerações, não devemos ter medo", disse o imã aos cerca de mil fiéis sentados em esteiras naquela mesquita situada numa rua cheia de livrarias islâmicas.
"À caricatura respondemos com uma caricatura, com um desenho, a um artigo na imprensa com um artigo na imprensa (...). Mas não respondemos com armas", afirmou por seu lado o imã da mesquita da União à Montpellier (no sul de França), Mustafa Riad.
Em Bordéus (sudoeste), o imã e teólogo Tareq Oubrou expressou a "raiva" dos muçulmanos, cuja religião é "confiscada por tolos", "incultos" religiosos, "desequilibrados", à margem de uma marcha ecuménica naquela cidade.
Representantes da comunidade muçulmana temem que o ataque ao "Charlie Hebdo" provoque um ressurgimento de ataques a muçulmanos.
O primeiro-ministro francês Manuel Valls sublinhou esta sexta-feira que França está "numa guerra contra o terrorismo", não "contra uma religião", e o presidente François Hollande apelou à "rejeição de estigmas".
Desde quarta-feira, vários locais de culto foram alvo de tiros ou outros projeteis, mas que não fizeram vítimas.
"Tenho medo que estes atos aumentem nos próximos dias", afirmou o presidente do Observatório nacional contra a islamofobia no Conselho francês do culto muçulmano (CFCM, sigla em francês), Abdallah Zekri.