A guerra de tarifas de Donald Trump criou um ambiente de incerteza com “consequências negativas severas” para o Comércio internacional, com uma previsão de queda das trocas de 1,5% em 2025, calculou a Organização Mundial do Comércio (OMC). A relação mais afetada é entre os EUA e a China, cujo comércio deve cair 81%.
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“A recente redução das tensões tarifárias aliviou temporariamente parte da pressão sobre o Comércio global”, afirmou a diretora da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, referindo-se a suspensão de 90 dias das taxas alfandegárias norte-americanas sobre os bens de diversos países, com exceção dos chineses. “No entanto, a incerteza persistente ameaça atuar como um travão ao crescimento global, com consequências negativas severas para o Mundo, em particular para as economias mais vulneráveis”, acrescentou. “Se a situação se deteriorar”, alerta a entidade que arbitra as relações comerciais entre os estados-membros, o Comércio poderá “encolher ainda mais, para 1,5% em 2025”.
“Estou profundamente preocupada com a incerteza em torno da política comercial, incluindo o impasse entre os EUA e a China”, pontuou Okonjo-Iweala. A OMC estima que a relação comercial bilateral entre norte-americanos e chineses deve cair 81% este ano, além de “contribuir para uma fragmentação mais ampla da economia global segundo linhas geopolíticas em dois blocos isolados”. “As nossas estimativas sugerem que o PIB global seria reduzido em quase sete por cento a longo prazo”, completou.
Enquanto isso, Pequim divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 5,4% no primeiro trimestre, acima da expectativa de 5,1%. O desempenho é parcialmente explicado pelos exportadores, que despacharam encomendas perante a ameaça de novas tarifas pelos EUA. Apesar do bom resultado para a China, o Departamento Nacional de Estatísticas chinês alertou que as taxas norte-americanas vão “colocar certas pressões sobre o Comércio externo e a Economia”.
Retóricas de Trump e de Xi
Trump disse que “a bola está no campo da China”, salientando que Washington não precisa de um acordo, mas sim Pequim. O líder dos EUA alegou ainda que a inflação no país está a diminuir. Enquanto isso, o presidente chinês continuou o périplo pelo Sudeste Asiático, visitando a capital administrativa malaia, Putrajaya. “A China e a Malásia vão apoiar os países da região para combater a corrente oculta de confronto geopolítico e entre campos, bem como as contracorrentes do unilateralismo e do protecionismo”, declarou Xi Jinping. “E juntos, vamos salvaguardar as brilhantes perspetivas da nossa família asiática", defendeu.
Nvidia calcula perda de 4,8 mil milhões de euros
A tecnológica norte-americana Nvidia revelou esta terça-feira que o Governo dos Estados Unidos exigiu, no dia 9 de abril, que a empresa peça, por um tempo indefinido, uma licença especial para exportar os chips H20 para a China devido ao “risco de os produtos abrangidos poderem ser utilizados ou desviados para um supercomputador”. A medida imposta pelos EUA limita o acesso a bens essenciais na corrida pela Inteligência Artificial.
A Nvidia calculou uma perda de 5,5 mil milhões de dólares (4,8 mil milhões de euros) – notícia que provocou grande queda nas ações da corporação, uma das mais valiosas do Mundo. A China gerou 17 mil milhões de dólares (cerca de 15 mil milhões de euros) em receita no último ano fiscal, encerrado a 26 de janeiro, representando 13% do total de vendas da empresa.
Segundo a agência britânica Reuters, citando duas fontes ouvidas sob condição de anonimato, as equipas de vendas da fabricante de chips só foram informadas da restrição na terça-feira, apesar de a gigante tecnológica saber da decisão de Washington há quase uma semana.
Em destaque
Negociações com Tóquio
Donald Trump, anunciou que reunir-se-ia esta quarta-feira com a delegação japonesa – liderada pelo ministro da Economia, Ryosei Akazawa –, para discutir as tarifas e o apoio militar dado a Tóquio.
Transferência de produção de carro
Sem citar as tarifas, a fabricante de automóveis Honda anunciou que transferirá a produção do carro híbrido Civic do Japão para os EUA no verão.
Hong Kong deixa de enviar bens
O serviço postal de Hong Kong anunciou que deixará de enviar bens para os EUA a partir do dia 27 e que não coletará quaisquer tarifas americanas.