O ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia evitou, esta terça-feira, na ONU o assunto da crise diplomática indiana com o Canadá sobre o homicídio de um líder separatista Sikh, mas criticou indiretamente a resposta de países terceiros ao "terrorismo".
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O ministro Subrahmanyam Jaishankar, usou o seu discurso no debate geral da Assembleia Geral da ONU principalmente para defender a crescente estatura global e ambições de liderança da Índia, destacando a presidência indiana do G20 e a recente cimeira deste grupo.
Mas também defendeu que o mundo não deve "aceitar que a conveniência política determine as respostas ao terrorismo, ao extremismo e à violência".
A Índia tem atacado frequentemente o Paquistão por aquilo que Nova Deli considera ser patrocínio ao terrorismo, acusando o país vizinho de armar e treinar insurgentes de Caxemira, controlada pela Índia, que lutam pela independência ou pela sua integração no Paquistão - uma acusação que Islamabad nega.
Desta vez, o comentário também pode ser visto como um ataque ao Canadá, cujo representante deverá falar ainda hoje na ONU.
As relações entre os dois países caíram para o ponto mais baixo dos últimos anos, depois de o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, dizer na semana passada que a Índia pode ter estado envolvida no homicídio de um cidadão canadiano em junho, num subúrbio de Vancouver.
O Canadá ainda não forneceu qualquer prova pública do envolvimento indiano no assassínio de Hardeep Singh Nijjar, 45 anos, morto por homens armados mascarados.
A vítima mortal era um líder de um movimento que, no passado, esteve muito ativo na defesa de uma pátria Sikh independente, conhecida como Khalistan, e a Índia já o havia designado como terrorista.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia considerou a alegação como "absurda" e acusou o Canadá de abrigar "terroristas e extremistas". Afirmou também que as alegações foram motivadas, dando a entender que Trudeau estava a tentar angariar apoio interno entre a diáspora Sikh.
"Tais alegações infundadas procuram desviar o foco dos terroristas e extremistas Khalistani, que receberam abrigo no Canadá e continuam a ameaçar a soberania e a integridade territorial da Índia", disse o Ministério num comunicado na semana passada.
Embora a insurgência ativa tenha terminado há décadas, o Governo de Narendra Modi alertou que os separatistas Sikh estavam a tentar um regresso. Nova Deli pressionou países como o Canadá, onde os Sikhs representam mais de 2% da população, a fazerem mais para impedir o ressurgimento separatista.
A Índia faz com frequência na ONU referências veladas a outros países, em particular rivais como o Paquistão e a China.
Hoje, Jaishankar procurou voltar as atenções para as aspirações do seu país no cenário mundial.
Sendo a nação mais populosa do mundo e uma potência económica cada vez mais poderosa, a Índia tem-se apresentado como "a voz do Sul Global" e das frustrações dos países em desenvolvimento com uma ordem internacional desequilibrada.
"Quando aspiramos ser uma potência líder, não o fazemos para auto engrandecimento, mas para assumir maiores responsabilidades e fazer mais contribuições", disse Jaishankar. "Os objetivos que estabelecemos para nós mesmos tornar-nos-ão diferentes de todos aqueles cuja ascensão precedeu a nossa", acrescentou o ministro indiano.