Queda deve-se à comparação com março do ano passado, o primeiro mês da guerra na Ucrânia, e descida da energia
Corpo do artigo
O aumento dos preços em Espanha conheceu ontem um travão a fundo com a inflação a registar uma queda de quase para metade, situando-se nos 3,3% quando comparado com março do ano passado, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) espanhol. O efeito estatístico da guerra e uma queda brutal nos custos da energia ajudam a explicar o fenómeno. Aliás, a reviravolta não é uma surpresa, embora a sua intensidade tenha sido maior do que o esperado.
É que o chamado efeito de base é decisivo para que estes resultados sejam tão favoráveis. Como compara os preços de março de 2022 - o primeiro mês de guerra na Ucrânia e quando a eletricidade, gás e petróleo atingiram valores estratosféricos - com os de março de 2023, o resultado seria sempre favorável. Soma-se ainda o facto de, nos últimos 30 dias, a energia ter ficado mais barata, com quedas consecutivas dos preços do petróleo e do gás devido a receios de uma recessão provocada pela crise bancária e a consequente restrição ao crédito. Até porque a inflação subjacente, que desconsidera o impacto de fatores temporários ou circunstanciais sobre o índice da inflação, continua elevada, atingindo os 7,5%.
Preços a subir menos
A queda do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no país vizinho em relação a fevereiro, que atingiu os 6% na comparação anual, está longe da meta de 2% definida pelo Banco Central Europeu. Ou seja, isto não significa que os preços estejam a descer - continuam a crescer quatro décimas em termos mensais, segundo o INE espanhol - ou que estejam mais baratos do que há um ano, apenas estão a subir menos, o que já são boas notícias e um primeiro passo para enfrentar o problema da crise inflacionista.
A queda de 2,7 pontos percentuais em relação a fevereiro (não caía tanto em um mês desde maio de 1977), não significa um fim nas pressões inflacionistas e, embora os dados sejam positivos, ainda é prematuro falar numa mudança definitiva de tendência. "É uma espécie de miragem, porque a inflação subjacente continua alta, e nos próximos meses o efeito base, embora continue a ajudar a desacelerar a inflação, não o fará tanto quanto em março", explica Leopoldo Torralba, economista da Arcano ao "El País". A diferença de 4,2 pontos percentuais entre a inflação subjacente, que exclui energia e alimentos frescos, e a geral é a mais alta desde agosto de 1986.
O preço dos alimentos em Espanha subiu mais de 16% em fevereiro, apesar das reduções de IVA aprovadas pelo Governo para alguns produtos básicos, mas será preciso esperar mais duas semanas para saber se a medida de Pedro Sánchez teve algum efeito em março.