"Pingdemia" obriga milhares de trabalhadores ao isolamento. As exceções estão mal desenhadas e o plano é caótico, acusam grossistas e armazenistas.
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O plano governamental de emergência para evitar que a espiral "pingdémica" atinja o fornecimento de alimentos em Inglaterra entrou numa fase declarada de caos e os líderes da indústria da distribuição alimentar condenam unanimemente os planos do governo de Boris Johnson. Os patrões da indústria, diz o jornal "The Guardian", falam em "desastre absoluto".
Como muitos serviços de comboio também foram interrompidos no sábado pelo número de trabalhadores obrigados a cumprir auto isolamento, os aeroportos também sofreram, com longas filas nos controles de passaportes. Ainda segundo o diário inglês, a indústria de serviços já prevê de novo "um verão perdido".
A culpa da "pingdemia"
O Labour, partido conservador do primeiro-ministro Boris Johnson, está a agora a ser fortemente pressionado no sentido de apresentar mudanças nas políticas de auto isolamento que vão vigorar até 16 de agosto. E muitos grossistas alertam para o rápido aumento da escassez de pessoal devido à vaga da "pingdemia".
A "pingdemia" ("pingdemic", no original) é a nova palavra que entrou com toda a força na vida social britânica: o neologismo junta as palavras "pandemia" e "ping", que é o barulho do alerta no telemóvel quando um utente recebe o aviso, na app do serviço nacional de saúde, de que esteve em contacto com uma pessoa infetada, ficando assim obrigada ao isolamento. A "pingdemia" está, justamente, a afetar milhares de trabalhadores do setor dos serviços, sobretudo no ramo alimentar.
Boris cede à pressão
Numa tentativa de impedir maiores danos na economia, e evitar mais prateleiras de supermercados vazias, que começam a grassar na grande metrópole Londres, o executivo de Boris Johnson foi obrigado a ceder à pressão. E anunciou que cerca de 10 mil trabalhadores do setor alimentar ficarão isentos das regras - mas têm que ter testes negativos diariamente. Outros em setores-chave da economia e dos serviços públicos também estão incluídos no plano de isenção.
Mas, aponta o semanário "Observer", vários líderes da indústria do abastecimento alimentar dizem que as medidas foram tão mal administradas e comunicadas que só pioraram a crise.
"É o caos total: há 15 empresas supostamente isentas, mas este setor tem mais de 500", disse ao "The Guardian" James Bielby, da FDA, associação de grossistas.
"As empresas lutam para manter as prateleiras com alimentos", disse Shane Brennan, da associação de empresas de congelados. "Vivemos um dia de cada vez, sem planeamento, ninguém sabe o que vai acontecer amanhã e poucos têm confiança de que o Governo controle a situação".
O que mudou
Há ajuntamentos
Desde 19 de Julho, "Dia da Liberdade", deixa de haver limite quanto ao número de pessoas que podem estar juntas em espaços públicos.
Sem máscaras
O uso de máscara já não é obrigatório. Mas certas lojas e transportes públicos ainda as exigem. O distanciamento social também caiu.
Discotecas abrem
Discotecas e bares já reabriram. O Passe Covid só será obrigatório em setembro.
Estádios também
Os estádios, cinemas e teatros reabrem sem restrições. Igrejas também. Casamentos deixam de ter limite de pessoas.
Lares têm visitas
O limite de visitantes em lares de idosos foi removido.
Escolas livres
Termina, a partir de 16 de agosto, a maioria das restrições impostas pela covid nas escolas de Inglaterra.
Viagens aliviadas
Os ingleses já podem viajar para países da sua "lista amarela", como Portugal, sem restrições nem quarentena no regresso - exceção imposta a quem visitar França.
Sem isolamento
A partir de 16 de agosto, adultos totalmente vacinados não precisarão de cumprir isolamento após contacto com um caso positivo.
Números
Mais 59% de mortos só numa semana
Na semana anterior, o número de mortos aumentou 59%, para 450, face à semana precedente. Desde o início da pandemia, o Reino Unido acumula 129 158 mortes entre 5,6 milhões de infetados.
70% dos britânicos já estão vacinados
Segundo as estatísticas diárias, 70,3% da população adulta está vacinada. Ontem, o Reino Unido contabilizou mais 29 173 infeções e mais 28 mortes por covid-19.