Investigação ao misterioso "assassinato" dos príncipes da Torre de Londres iliba o tio Ricardo III
Uma nova investigação sobre o misterioso desaparecimento, há mais de cinco séculos, de dois jovens príncipes da Torre de Londres, um dos "assassinatos" mais intrigantes da História, iliba o seu tio, Ricardo III, do crime de homicídio.
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Quase 200 anos após o desaparecimento, dois pequenos esqueletos foram encontrados numa caixa de madeira na torre histórica e novamente enterrados na Abadia de Westminster. Acreditava-se, mas nunca se provou, que os restos mortais eram dos dois irmãos, o herdeiro do trono, Eduardo, de 12 anos, e Ricardo, de nove, filhos do rei Eduardo IV de Inglaterra, que teriam sido assassinados a mando do tio, Ricardo, duque de Gloucester. William Shakespeare imortalizou-o posteriormente em Ricardo III como um corcunda ardiloso que matou os sobrinhos para poder tomar a coroa, selando a sua reputação de assassino de crianças.
Agora, a autora britânica Philippa Langley, que ajudou a desenterrar o corpo de Ricardo num parque de estacionamento no centro de Inglaterra, em 2012, afirmou que os príncipes sobreviveram. O príncipe mais velho, Eduardo, era herdeiro do trono na altura do seu desaparecimento e terá governado como Rei Eduardo V de Inglaterra.
Langley decidiu investigar o mistério depois de passar a acreditar que a narrativa convencional segundo a qual Ricardo mandou matar os jovens príncipes fazia lembrar "história escrita pelos vencedores". Foi levada à ação após ler um artigo sobre o novo enterro de Ricardo na Catedral de Leicester, em 2015, que questionava se a nação deveria homenagear um "assassino de crianças". "Acho que sempre percebi que a história se desenvolveu durante o reinado dos Tudor", disse, acrescentando que foi "repetida e repetida ao longo do tempo" até se tornar "verdade e facto".
Último rei inglês a morrer em batalha, Ricardo governou desde 1483 até à sua morte na Batalha de Bosworth, perto de Leicester, em 1485, aos 32 anos. Bosworth foi o último grande conflito nas Guerras das Rosas e mudou o curso da história inglesa porque a dinastia Tudor de Henrique VII conquistou a coroa.
Langley atribui a versão aceite de que Ricardo mandou assassinar os rapazes ao rei Henrique VII, um "indivíduo muito, muito inteligente, mas desconfiado e altamente paranóico". "Ele tinha uma enorme rede de espionagem a trabalhar para ele. E foi capaz de controlar completamente a narrativa", disse, acrescentando que Ricardo acabou "coberto de lama Tudor".
A autora reuniu um grupo de especialistas em investigação, incluindo polícias e advogados, para a aconselhar, e fez um apelo por voluntários para vasculhar os arquivos, tendo sido inundada com ofertas de ajuda de pessoas que iam desde cidadãos comuns a historiadores medievais.
O resultado foi o Projeto Príncipes Desaparecidos, que durou uma década e, segundo a própria, revelou uma quantidade significativa de informações que apontam para a sobrevivência dos dois jovens príncipes.
Teoria da sobrevivência
Langley acredita que cabe aos detratores de Ricardo refutar a tese da sobrevivência, que descreve no novo livro "Os Príncipes na Torre: Resolvendo o Maior Caso Arquivado da História".
Agora, a responsabilidade de encontrar as provas de que os meninos morreram recai sobre eles. "Já não podem dizer que Ricardo III assassinou os príncipes na torre, porque encontrámos inúmeras provas de vida por todo o lado", referiu.
A chave para a convicção de Langley de que os dois rapazes sobreviveram são documentos descobertos que apoiam uma rebelião do "filho de Eduardo IV".
Durante a rebelião de 1487, Lambert Simnel, um pretendente ao trono que se apresentou após a morte de Ricardo, foi coroado em Dublin. De acordo com novas referências encontradas pelo projeto, o rapaz era "chamado" ou considerado "filho do rei Eduardo", o que acredita indicar que Simnel era o príncipe mais velho, filho de Eduardo IV.
A reação à investigação de Langley foi mista.