O Irão anunciou o encerramento do Instituto Francês de Investigação no Irão (IFRI, na sigla francesa) após a publicação por uma revista satírica francesa de caricaturas que Teerão considera insultuosas para o guia supremo iraniano.
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"[O Governo] pôs fim às atividades do IFRI como uma primeira medida" de resposta às caricaturas, refere o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano em comunicado.
Quarta-feira, o Governo do Irão qualificou como "insultuosa" a decisão da revista francesa "Charlie Hebdo" de abrir um concurso de caricaturas do líder supremo iraniano, aiatola Ali Khamenei, garantido na altura que não ficaria sem resposta.
#MullahsGetOut | Le 8 décembre, nous lancions un concours de caricatures du Guide suprême de la République islamique d"Iran. Un mois plus tard et après plus de 300 dessins reçus (ainsi que des milliers de menaces), voici notre sélection de gagnants ! https://t.co/oZ9T3Ri0v9
- Charlie Hebdo (@Charlie_Hebdo_) January 4, 2023
No mesmo dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hosein Amir Abdolahian, advertiu na conta pessoal na rede social Twitter que "o ato insultuoso e indecente de uma publicação francesa de publicar caricaturas contra a autoridade religiosa e política não vai ficar sem uma resposta decisiva e efetiva".
Depois deste comentário, feito durante a manhã, o embaixador francês em Teerão, Nicolas Roche, foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) iraniano, onde recebeu os protestos do regime.
O Irão não aceita os insultos contra as suas santidades e aos seus valores
"O Irão não aceita os insultos contra as suas santidades e aos seus valores islâmicos, religiosos ou nacionais. A França não tem direito a justificar os insultos aos valores sagrados de outros países e nações muçulmanas, sob o pretexto da liberdade de expressão", lê-se num outro comunicado divulgado ainda quarta-feira.
O texto acrescenta que o Irão responsabiliza o governo francês pelas consequências do ato e que "se reserva o direito de responder proporcionalmente".
O chefe da diplomacia iraniana apresentou o protesto oficial sobre o caso ao embaixador, sublinhando que o Irão "aguarda uma explicação" do Governo francês, defendendo que Paris deve "condenar o comportamento inaceitável da revista".
Segundo se pode ler no portal do instituto francês em Teerão, o IFRI, associado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros gaulês, nasceu em 1983 fruto da fusão da Delegação Arqueológica Francesa no Irão (DAFI), criada em 1897, e do Instituto Francês de Iranologia em Teerão (IFIT), fundado em 1947 por Henry Corbin.
O IFRI, situado no centro de Teerão, esteve fechado durante muitos anos, mas reabriu sob a presidência do moderado Hassan Rouhani (2013-2021) como sinal da melhoria das relações entre a França e o Irão e inclui, em particular, uma rica biblioteca, utilizada por estudantes de língua francesa e académicos iranianos.
"Charlie Hebdo" recebeu mais de 300 propostas e milhares de ameaças
A "Charlie Hebdo" recordou, esta quinta-feira, no Twitter que lançou, a 8 de dezembro, um concurso de caricaturas do líder iraniano, como símbolo da repressão contra as mulheres no Irão, onde há meses decorrem inúmeros protestos.
A publicação satírica, que em 2015 sofreu um atentado que causou 12 mortos depois de ter publicado caricaturas de Maomé, garantiu ter recebido mais de 300 propostas e milhares de ameaças depois de pôr a iniciativa em marcha.
Os protestos no Irão começaram em meados de setembro, depois da morte, sob custódia policial, de uma jovem curda, de 22 anos, acusada pela polícia dos costumes de supostamente usar indevidamente o "'hijab", o véu islâmico.
No seguimento, pelo menos duas mil pessoas foram acusadas pela justiça iraniana de diversos delitos e sobretudo pela participação nas manifestações, e já há condenações à morte executadas.
Por outro lado, várias organizações não-governamentais adiantaram que mais de 450 pessoas foram mortas nos últimos meses no país, em resultado da repressão contundente das manifestações pela polícia.