Micheál Martin tem 59 anos e deverá ser primeiro-ministro da República da Irlanda até dezembro de 2022, altura em que entregará a pasta ao parceiro de coligação e "Taiosech" (chefe em irlandês) cessante, Leo Varadkar.
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Associados aos Verdes irlandeses, o inusitado grupo dos até hoje opositores figadais Fine Gael de Varadkar e Fianna Fáil de Martin, ambos centristas, viu aprovada a proposta de executivo em votações internas de cada partido e, horas depois, teve luz verde do parlamento (Dáil). É o culminar de meses de negociações travadas pela pandemia mas fixadas num objetivo incontornável: travar o Sinn Féin.
O partido de esquerda nacionalista que era considerado o braço político do Exército Republicano da Irlanda - o IRA dos "troubles" entre nacionalistas e unionistas no Norte da Irlanda, parte do Reino Unido - venceu inesperadamente as eleições de fevereiro com 24,5% dos votos, aproveitando o descontentamento dos eleitores mais jovens num país cujo nível de vida subira a um ponto que marginalizava parte da sociedade. A política de habitação foi, de resto, a sentença de morte do Governo de Varadkar, apesar das conquistas históricas que encabeçou, como o casamento homossexual, a despenalização do aborto e o fim da obrigatoriedade de batismo para aceder à escola, isto num dos países mais católicos do mundo.
Fantasma do passado
Só que a vitória - que nem o próprio Sinn Féin esperava, pelo que não apresentou mais do que um candidato por círculo - só lhe trouxe 37 deputados, insuficientes para uma desejável posição de força maioritária. E nenhum partido aceitou associar-se a uma organização cujo peso passado ainda é demasiado elevado para muitos irlandeses. Até porque tem desde sempre no seu programa a reunificação das Irlandas.
Com mais deputados eleitos, o Fianna Fáil do novo Taiosech lidera o Dáil (38 de 160 assentos). Recusando desde o início estender a mão ao Sinn Féin de Mary Lou McDonald, preferiu associar-se ao Fine Gael, terceira força no hemiciclo (35 deputados). A aproximação é absolutamente inédita: Fine Gael e Fianna Fáil alternaram no poder desde o final de guerra civil que os opôs, em 1922.
Ainda sem maioria, o grupo namorou os 12 deputados dos Verdes. Conseguiu conquistá-los com promessas de aposta no transporte público e no incremento do uso da bicicleta, de aumento dos impostos ecológicos e de redução, em 7% anuais até 2030 - das emissões de gases com efeito de estufa.
O que é certo é que, para já, as prioridades são o combate à crise económica desencadeada pela pandemia de covid-19, que matou cerca de 2400 pessoas na ilha, somando a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. O tempo é de recuperação e renovação" prometeu Martin.v