Irmão de ex-cirurgião pedófilo francês diz que cunhada sabia dos abusos e "não fez nada"
A então mulher do ex-cirurgião francês em julgamento por agredir ou violar 299 pacientes estava ciente das suas ações, mas "não fez nada", disse o irmão do médico ao tribunal esta quarta-feira.
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O cirurgião reformado Joel Le Scouarnec, de 74 anos, está em julgamento desde segunda-feira num dos maiores casos de abuso sexual infantil do país. Entre as 299 vítimas, 256 tinham menos de 15 anos na época. A mais nova tinha um ano e a mais velha 70. Os crimes terão sido cometidos numa dúzia de hospitais entre 1989 e 2014, em muitos casos enquanto estavam a acordar da anestesia ou durante exames pós-operatórios.
Marie-France, que se divorciou de Le Scouarnec em 2023, "poderia ter garantido que o meu irmão fosse preso", disse o irmão do médico ao tribunal. O irmão, cujo nome não foi divulgado para proteger sua privacidade, admitiu um forte sentimento de antipatia pela então cunhada e reconheceu que não tinha "provas" para apoiar as suas alegações.
No entanto, acusou Marie-France de "amar o marido pelo dinheiro" e ter relações sexuais com outros homens enquanto era casada.
Além disso, disse que o irmão deveria ficar preso pelo resto da vida. "Seria bom para a sociedade", acrescentou.
O ex-cirurgião já está na prisão, tendo sido considerado culpado em 2020 por abusar de quatro crianças, incluindo duas das sobrinhas. Cinco anos mais novo, o irmão alegou ter cortado todos os laços com Le Scouarnec desde a sua detenção em 2017.
Marie-France deverá testemunhar ainda esta quarta-feira. A ex-mulher do reú alega que nunca teve a menor suspeita sobre as tendências pedófilas do marido.
Le Scouarnec documentou meticulosamente os seus crimes, anotando os nomes, idades e moradas das vítimas e a natureza do abuso. O cirurgião cometeu os crimes durante décadas até à sua reforma, apesar de uma sentença de 2005 por possuir imagens sexualmente abusivas de crianças e colegas terem levantado preocupações sobre ele.
O caso causou indignação num país ainda traumatizado pelas revelações do recente julgamento de Dominique Pelicot, que foi condenado por recrutar dezenas de estranhos para violar a mulher fortemente sedada.
Segundo a lei francesa, violação é "qualquer ato de penetração sexual, de qualquer natureza, ou qualquer ato oral-genital cometido em outra pessoa ou na pessoa do perpetrador por meio de violência, coerção, ameaça ou surpresa".