Israel ataca Damasco após violência islamita em cidade no Sul da Síria. Trégua anunciada
Em quatro dias, já são mais de 300 mortos em Sweida, região onde israelitas rejeitam a presença de militares sírios. Segundo cessar-fogo anunciado em dois dias gera incerteza.
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O cessar-fogo anunciado na terça-feira pelo Governo sírio na região de Sweida, no Sul do país, não perdurou e a violência continuou, com o balanço de mortos a ultrapassar os 300. Sob o argumento de proteção dos drusos, Israel bombardeou a Síria pelo terceiro dia consecutivo, mas desta vez atingiu Damasco, incluindo o Ministério da Defesa e os arredores do palácio presidencial. Uma nova trégua, divulgada esta quarta-feira pelo Executivo sírio, está a gerar dúvidas sobre a sua implementação e manutenção.
O ataque na capital síria provocou a morte de pelo menos três pessoas e deixou outras 34 feridas, de acordo com o Ministério da Saúde de Damasco. Telavive, que afirma ter atingido alvos militares, quer que as autoridades da Síria “deixem os drusos em Sweida em paz”. O ministro da Defesa hebraico, Israel Katz, prometeu “golpes dolorosos” para “eliminar as forças que atacaram os drusos até à sua retirada total”.
“Estamos a trabalhar para salvar os nossos irmãos drusos e eliminar os gangues do regime”, disse Benjamin Netanyahu, que teve a audiência do seu caso de corrupção adiada devido ao conflito. O primeiro-ministro israelita urgiu aos drusos em Israel para não cruzarem a fronteira com a Síria após centenas protestarem contra a situação em Sweida.
A onda de violência começou no domingo, após o rapto de um vendedor de legumes druso por beduínos. As forças de Damasco entraram em Sweida para cessar os confrontos entre os grupos drusos e tribos beduínas, mas militares e aliados do Governo islamita terão participado em ataques à população local. Segundo a organização Observatório Sírios dos Direitos Humanos, 302 pessoas morreram no conflito: 69 combatentes drusos, 40 civis drusos (27 destes executados por “membros dos Ministérios da Defesa e do Interior” sírios), 175 das forças governamentais (dez deles mortos em ataques israelitas) e 18 combatentes beduínos.
O Ministério do Interior de Damasco anunciou, mais uma vez, um cessar-fogo em Sweida, acordado com grupos drusos. A trégua inclui um fim imediato das operações militares, a criação de um comité com membros do Estado sírio e líderes religiosos para supervisionar o cessar-fogo, a implementação de postos de controlo de segurança na cidade e a participação de pessoas de Sweida para cargos de liderança, detalhou a estação catari Aljazeera.
Discordância sobre trégua
Mesmo com o líder druso sírio Sheikh Yousef Jarbou a corroborar com o acordo, a agência britânica Reuters relatou tiros por parte das forças do Governo sírio após o anúncio. Rival de Jarbou, Sheikh Hikmat al-Hajari, outro líder druso sírio, rejeitou a trégua e frisou que os combates continuarão até que Sweida seja “totalmente libertada”.
Quem sãos os drusos?
Origens
Surgiram no século XI, no Egito, como uma divisão do ramo ismaelita do Islão xiita, mas não se identificam como muçulmanos. Desde o século XVI, começaram a ocupar a área que hoje é o Sul da Síria.
Crenças
Monoteístas, chamam-se de muwahhidun (unitários) e creem na unicidade de Deus, na reincarnação e na eternidade da alma.
Distribuição
Os mais de um milhão de drusos estão na Síria (cerca de 700 mil antes da guerra civil, em 2011), no Líbano (por volta de 200 mil) e em Israel (mais de 150 mil). Há ainda entre 15 a 20 mil na Jordânia e uma diáspora na América do Norte e na Austrália.
Laços com Israel
Diferentes dos árabes muçulmanos e cristãos em Israel, servem nas Forças Armadas. Exercem altos cargos, incluindo no Parlamento. A maioria dos drusos na região ocupada dos Montes Golã identifica-se, no entanto, como síria.
Relação com a Síria
Na guerra civil, formaram grupos armados que defenderam o Sul da Síria do regime e dos rebeldes islamitas. Estão divididos em como lidar com Damasco após a queda de Assad.