Ao fim de meses de tensão no Médio Oriente, Telavive lançou, este sábado, "ataques de precisão" contra a capital iraniana. "Missão cumprida", anunciou o exército horas depois. "Danos limitados", sublinha o Irão.
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Chegou de madrugada a expectável resposta israelita à salva de mísseis lançada por Teerão no início do mês, que por sua vez tinha sido uma retaliação pelo assassinato, por Israel, do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. E assim se agiganta a escalada das tensões no Médio Oriente que a comunidade internacional temia. Várias explosões foram ouvidas, às primeiras horas deste sábado, na capital iraniana e na cidade vizinha de Karaj. E o que começou por ser noticiado pela imprensa do país como bombardeamentos com a provável assinatura de Israel foi pouco depois confirmado pelas próprias forças israelitas como uma operação de "ataques de precisão" contra pontos militares no país.
De acordo com a agência de notícias iraniana Fars, citada pela Reuters, várias bases militares na capital e arredores foram atacadas e, escreve o "The Guardian", pelo menos sete explosões sacudiram a cidade num primeiro momento, repetindo-se a dose cerca de duas horas mais tarde. Uma importante refinaria no sul de Teerão escapou à ofensiva, não havendo relatos de incêndios ou explosões no local.
As autoridades iranianas já indicaram que o ataque causou "danos limitados" e visou instalações militares nas províncias de Teerão (norte), Khuzestan (sudoeste) e Ilam (sudeste).
"Embora o nosso sistema de defesa aérea tenha intercetado e combatido com êxito os ataques, algumas áreas sofreram danos limitados", afirmou o quartel-general da defesa aérea iraniana num comunicado divulgado pela agência noticiosa IRNA. "As dimensões deste ataque estão a ser investigadas".
"Capacidades defensivas e ofensivas totalmente mobilizadas"
"Em resposta a meses de ataques contínuos do regime do Irão contra o Estado de Israel, neste momento, as Forças de Defesa de Israel estão a conduzir ataques de precisão contra alvos militares no Irão", confirmou o responsável pelas Forças Armadas do país, Daniel Hagari, num vídeo divulgado ao início da madrugada na conta oficial no X (ex-Twitter).
"O regime do Irão e os seus representantes na região têm atacado Israel implacavelmente desde 7 de outubro - em sete frentes - incluindo ataques diretos de solo iraniano. Como qualquer outro país soberano do mundo, o Estado de Israel tem o direito e o dever de responder", acrescentou, reiterando a tese de legítima defesa que tem sido invariavelmente usada por Telavive para justificar as ofensivas em Gaza, no Líbano e na Síria. "As nossas capacidades defensivas e ofensivas estão totalmente mobilizadas. Faremos tudo o que for necessário para defender o Estado de Israel e o povo de Israel", rematou Hagari.
"Missão cumprida"
Algumas horas depois, o exército de Israel anunciou que a série de ataques "terminou e a missão foi cumprida".
Os aviões militares "atingiram locais de produção de mísseis (...) que o Irão tem vindo a disparar contra o Estado de Israel há um ano. Estes mísseis constituíam uma ameaça direta e imediata para os cidadãos de Israel", indicou, em comunicado. "Baterias de mísseis terra-ar e outros sistemas aéreos" também foram alvos desta ofensiva.
"O Irão disparou centenas de mísseis contra o Estado de Israel em dois ataques, em abril e outubro, e está a financiar e a dirigir atividades terroristas através dos aliados no Médio Oriente para atacar Israel", continuou o exército na declaração, acrescentando que o Irão estava a trabalhar para "minar a estabilidade e a segurança regionais, bem como a economia global".
Numa declaração separada, o porta-voz Daniel Hagari explicou que estes ataques deram a Israel "maior liberdade de ação" no espaço aéreo iraniano, avisando Teerão de que pagaria "um preço elevado" por qualquer nova escalada.
"Se o regime iraniano cometesse o erro de iniciar uma nova escalada, seríamos obrigados a responder", disse o contra-almirante Daniel Hagari. "A nossa mensagem é clara: todos aqueles que ameaçam o Estado de Israel e tentam mergulhar a região numa escalada mais alargada pagarão um preço elevado".
"O poder do Irão humilha os inimigos da pátria"
As autoridades de Defesa iranianas sublinharam que Israel realizou os ataques apesar dos "avisos de altos funcionários da República Islâmica ao regime sionista criminoso e ilegal para evitar qualquer ação aventureira" e apelaram à população para manter a calma e não "dar atenção aos rumores dos meios de comunicação social inimigos".
Até agora, a reação oficial ao ataque israelita tem sido escassa, tendo o primeiro vice-presidente iraniano, Mohammad Reza Aref, sido um dos poucos responsáveis a reagir, às primeiras horas da manhã. "O poder do Irão humilha os inimigos da pátria", disse, na rede social X.
Casa Branca avisada da ofensiva
De acordo com a agência Reuters, a Casa Branca foi notificada por Israel acerca dos ataques conduzidos contra alvos militares antes de estes serem levados a cabo. As autoridades norte-americanas dizem não ter envolvimento na operação militar e alegam terem-na entendido como "um exercício de autodefesa" contra alvos militares.
Os ataques ocorreram numa altura em que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, regressava a solo norte-americano depois de uma viagem ao Médio Oriente, na qual pediu a Israel que respondesse ao Irão de uma forma que não intensificasse ainda mais o conflito na região e que excluísse as instalações nucleares do país.
Ministro da Defesa tinha prometido contra-ataque
A ofensiva - que também visou alvos na Síria e que foi comandada pelo tenente-general Herzi Halevi, Chefe do Estado-Maior do Exército israelita, a partir da base aérea em Camp Rabin - acontece na mesma semana em que o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, avisou que ataques planeados por Israel contra o Irão fariam o mundo compreender o poderio militar do país. O governante visitou, na quarta-feira, as tripulações israelitas na base aérea de Hatzerim, e deixou claro que Telavive pretendia contra-atacar, em resposta ao ataque iraniano de 1 de outubro.