O Governo israelita e o movimento islâmico conseguiram chegar a um consenso para o início de uma pausa humanitária, com a duração de quatro dias, que irá permitir a libertação segura de cerca de 50 reféns. Entenda de que forma a operação se irá processar e o que está em causa no pacto mediado pelos EUA, Egito e Catar.
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Em que consiste o acordo?
Mediadas pelos EUA, Egito e Catar, as negociações entre Israel e o Hamas com vista a um acordo para a libertação de reféns e a uma pausa humanitária de quatro dias mostraram-se frutíferas. O Governo de Benjamin Netanyahu concordou com a saída do cativeiro de 50 mulheres e crianças que se encontram, desde 7 de outubro, nas mãos dos membros do movimento islâmico. O jornal "Haaretz", que cita uma fonte do Executivo, detalha ainda que cerca de 12 a 13 reféns vão ser libertados ao longo de quatro dias na Faixa de Gaza.
"O número de pessoas libertadas irá aumentar em fases posteriores da implementação do acordo", refere um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel.
Em troca, 150 membros do grupo islâmico presos em cadeias israelitas devem ser mandados para casa. Contudo, os militantes do Hamas que serão autorizados a abandonar as prisões só serão postos em liberdade mediante uma condição: não se podem tratar de pessoas condenadas por assassinatos. O Ministério da Justiça de Israel divulgou, esta quarta-feira, uma lista de prisioneiros palestinianos incluídos no acordo na qual constam 300 nomes, tendo por base a possibilidade de o Hamas conseguir localizar mais reféns israelitas e libertá-los em troca de mais prisioneiros.
O acordo também prevê ajuda humanitária?
Sim. Durante o cessar-fogo, as Forças de Defesa de Israel (FDI) deverão parar as operações aéreas no Sul da Faixa de Gaza, permitindo a travessia segura de reféns através da passagem de Rafah, em direção ao Egito. Também será permitida a entrada de 100 a 300 de camiões humanitários, com alimentos, combustível e medicamentos, no enclave.
Quando entra em vigor?
O Hamas anunciou, esta quarta-feira, que a pausa humanitária entra em vigor às 10 horas locais de quinta-feira (8 horas em Portugal Continental).
"A trégua na Faixa de Gaza começará às 10 horas de amanhã [quinta-feira]", declarou Musa Abou Marzouk, membro sénior da ala política do Hamas, à estação "Al Jazeera".
Marzouk adiantou que o Hamas "está preparado para um cessar-fogo global e para uma troca de prisioneiros", antes de indicar que "a maior parte" dos reféns a libertar "são estrangeiros", sem dar mais pormenores.
O acordo pode ser o início do fim da guerra?
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, foi categórico ao explicar que o pacto com o Hamas apenas se trata de uma pausa humanitária. Assim que o acordo terminar, os confrontos voltarão a intensificar-se, o que não permite calcular um horizonte para o fim da guerra na Faixa de Gaza.
"Não vamos parar a guerra após o cessar-fogo. Sejamos claros: estamos em guerra e vamos continuar a guerra. Vamos continuar a guerra até atingirmos todos os nossos objetivos: eliminar o Hamas, devolver todos os nossos reféns e pessoas desaparecidas e garantir que não há nenhum elemento em Gaza que ameace Israel", assegurou, esta terça-feira, o chefe do Executivo hebraico.
Por esta razão, Israel recusou permitir que os civis palestinianos regressem ao Norte da Faixa de Gaza durante o período de quatro dias de cessar-fogo, uma vez que as FDI irão permanecer no que consideram ser pontos de interesse militar, informando que vão retomar os combates assim que o acordo terminar.
O que disse o Hamas?
O Hamas também saudou o acordo de “trégua humanitária” aprovado pelo Governo de Israel. “As disposições deste acordo foram formuladas de acordo com a visão de resistência e determinação que visa servir o nosso povo e fortalecer a sua tenacidade face à agressão”, afirmou o movimento islâmico, em comunicado.
No entanto, deixou um aviso: “Confirmamos que as nossas mãos continuarão no gatilho e que os nossos batalhões triunfantes continuarão atentos”, alertou o grupo.
Por que razão o pacto surgiu agora?
A pausa humanitária surge após semanas de pressão crescente por parte da comunidade internacional e dos principais organismos internacionais, como as Nações Unidas, para pôr termo aos ataques incessantes na Faixa de Gaza, que já causaram mais de 1,5 milhões deslocados, bem como a morte de mais de dez mil palestinianos.
Por outro lado, o Governo israelita também tem estado, desde o dia 7 de outubro, sob pressão interna para recuperar os cerca de 240 reféns que foram levados para o território palestiniano, sendo que o Hamas garante que apenas tem controlo de 210 pessoas. Os outros 30 estarão com a Jihad Islâmica. As famílias dos prisioneiros criaram o slogan "Traga-os Para Casa", sendo que, mais de um mês depois, as autoridades do país apenas conseguiram libertar quatro reféns.
Que questões ainda não estão clarificadas?
Ainda pairam algumas dúvidas sobre o acordo. Apesar de se saber que o número de prisioneiros israelitas a serem libertados irá rondar os 50, dando-se prioridade a mulheres e crianças, não é de conhecimento público os nomes das pessoas, tal como a sua nacionalidade. Porém, o Hamas já disse que "a maior parte" dos reféns a libertar "são estrangeiros". A Imprensa israelita também já adiantou que entre os libertados poderão estar pelo menos três norte-americanas.
O acordo estende-se a outras frentes de batalha?
Sim. Fontes do Hezbollah disseram à televisão "Al Jazeera" que o grupo xiita também vai cessar os combates na fronteira do Líbano com Israel, embora não tenha feito parte das negociações. A mesma fonte esclareceu que o Hezbollah vai parar de disparar contra o território vizinho "se as forças de ocupação israelitas aderirem ao cessar-fogo", sendo que "qualquer violação" do pacto por parte do Estado hebraico irá ser recebida com uma resposta da organização.
O pacto foi alvo de unanimidade no seio do Governo israelita?
Não. Os partidos de extrema-direita que fazem parte da atual coligação que Governa Israel opuseram-se a um acordo com o Hamas. O partido Sionismo Religioso, liderado pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, admitiu ao jornal "Times of Israel" que não concorda com o que ficou definido por considerar que é "mau para a segurança" do país. "A única maneira de devolver todos os reféns é continuar a pressão militar incessante sobre o Hamas até à vitória final", defendeu o governante.
Também o partido Poder Judaico, do ministro da Segurança Interna, Itamar Ben Gvir, acautelou que o pacto firmado irá "resultar numa redução significativa das hipóteses de fazer regressar os restantes reféns capturados pelo Hamas".
De que forma o Mundo reagiu ao acordo?
Pelo Mundo, vários países reagiram com satisfação ao acordo de libertação de reféns. Apesar de o pacto não prever o fim do conflito, fez várias figuras da comunidade internacional respirarem de alívio.
É o caso de Joe Biden. O presidente norte-americano admitiu que estava “extraordinariamente satisfeito” com a possível libertação de reféns sequestrados em Israel por militantes do Hamas e elogiou "Bibi" pelo seu “compromisso” em dar resposta à catástrofe humanitária, bem como em zelar pela segurança dos prisioneiros.
Também Moscovo demonstrou satisfação pelo acordo, sublinhando que “isto é exatamente aquilo a que a Rússia apelou desde o início da escalada do conflito”. A Rússia “saúda o acordo entre Israel e o Hamas sobre uma pausa humanitária de quatro dias”, referiu a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakarova.
Na Europa, também os presidentes da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, do Parlamento Europeu, Roberta Metsola e do Conselho Europeu, Charles Michel, felicitaram o acordo, indicando que a pausa deve ser aproveitada para “intensificar” a ajuda humanitária.
O acordo sobre a libertação de reféns do Hamas foi ainda congratulado pela China, Reino Unido, França e Alemanha, tendo o Egito mostrado vontade em continuar a mediação em conjunto com o Catar e os EUA.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também saudou o acordo, mas considerou que “ainda há muito a fazer”, disse o seu porta-voz.