O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, exigiu que "todos os partidos" do Governo apoiem a reforma do serviço militar para incluir os judeus ultraortodoxos, uma decisão vista hoje pela imprensa como "uma bofetada" na cara de Benjamin Netanyahu.
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Na sequência do ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, a 07 de outubro, e da guerra desencadeada em retaliação por Israel contra o movimento islamita palestiniano que governa a Faixa de Gaza, intensificou-se o debate em Israel sobre a partilha do fardo militar.
"Carregar o fardo do serviço militar em conjunto é um desafio nacional há 75 anos", afirmou o ministro da Defesa israelita numa conferência de imprensa em Telavive na noite de quarta-feira.
"Este desafio chegou à nossa porta em tempos de guerra, como não víamos há 75 anos. É por isso que temos de chegar a um acordo e tomar decisões como as que não tomámos nos últimos 75 anos", acrescentou, referindo-se ao ano em que o Estado de Israel foi fundado, em 1948.
Em Israel, o serviço militar é obrigatório, mas os judeus ultraortodoxos podem beneficiar de isenções, uma vez que dedicam o seu tempo ao estudo das escrituras sagradas do judaísmo.
No discurso, Gallant indicou que só apresentaria uma reforma do serviço militar ao Parlamento se esta tivesse o apoio de "todos os partidos da coligação".
O antigo ministro da Defesa e membro do gabinete de guerra Benny Gantz, cujo partido União Nacional (centro) está bem à frente nas sondagens, congratulou-se com as declarações de Gallant.
"O discurso de Gallant foi a declaração mais importante feita desde o massacre de 07 de outubro. Foi muito mais explosivo e poderoso do que toda a fanfarronice sobre 'vitória total' [...] porque deu a Gantz e [Gady] Eisenkot, do partido da União Nacional, poder de veto", escreveu hoje o diário de centro-direita Maariv.
Após o início da guerra, Benny Gantz e Gadi Eisenkot, os principais membros deste partido centrista, juntaram-se ao governo de Netanyahu.
Ao condicionar a reforma ao apoio deste partido, Gallant, apesar de ser membro do partido de direita de Netanyahu, o Likud, "desafiou" o primeiro-ministro e respetivos aliados nos partidos judeus ultraortodoxos, sublinha o Yediot Aharonot, o jornal mais vendido da imprensa hebraica.
"Gallant fez uma declaração de independência. Desafiou Benjamin Netanyahu e os partidos judeus ultraortodoxos. Gallant é o instigador e o líder. Se houver uma mudança, será graças a ele, mas também a Benny Gantz e a Gadi Eisenkot", escreve o Yediot.
Para o canal N12, "Gallant lançou uma bomba política, cuja importância não deve ser subestimada", pois pode "levar à dissolução do governo dentro de algumas semanas".
Se isso acontecesse, "Gallant não verteria uma lágrima", acrescentou.
Em 2018, tiveram de ser convocadas eleições antecipadas, em grande parte porque o Likud não conseguiu assegurar uma maioria para aprovar uma lei sobre o recrutamento de judeus ultraortodoxos.