Israel anunciou hoje a suspensão da ajuda à Faixa de Gaza, após ter denunciado a recusa do Hamas em aceitar os termos dos EUA para prolongar a primeira fase do cessar-fogo no enclave palestiniano, que expirou no sábado.
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“Após o fim da primeira fase do acordo de reféns, e à luz da recusa do Hamas em aceitar o esquema Witkoff para continuar as negociações com as quais Israel concordou, o primeiro-ministro Netanyahu decidiu que, a partir desta manhã, todo o fluxo de bens e mantimentos para a Faixa de Gaza cessará”, anunciou o gabinete de Benjamin Netanyahu, referindo-se à proposta do enviado especial dos Estados Unidos (EUA), Steve Witkoff.
O Governo Israelita não adiantou detalhes sobre a decisão, segundo várias agências de notícias internacionais, mas avisou que “se o Hamas continuar a sua recusa, haverá mais consequências”.
O anúncio do primeiro-ministro ocorreu horas depois de o Governo israelita ter declarado um novo cessar-fogo unilateral durante os feriados muçulmanos do Ramadão e da Páscoa judaica, ou seja, até aproximadamente 20 de abril.
No entanto, esta prorrogação do cessar-fogo irá operar fora dos termos do cessar-fogo inicial negociado entre o Hamas e Israel e que entrou em vigor em 19 de janeiro, não incluindo a continuação dos procedimentos para a troca de reféns.
Netanyahu acusou o Hamas de ignorar uma proposta alternativa apresentada pelo enviado especial da Casa Branca para a região, Steve Witkoff.
O representante americano ofereceu a possibilidade de prolongar os termos da primeira fase do cessar-fogo original: continuar as trocas de reféns enquanto tenta desbloquear as negociações, atualmente paradas, para concordar com uma segunda fase que inclui a libertação de todos os reféns do sexo masculino, em troca da retirada das forças israelitas do enclave palestiniano e o início das discussões sobre o futuro político da Faixa de Gaza.
“Israel não permitirá um cessar-fogo sem a libertação dos nossos reféns”, garantiu hoje o gabinete de Netanyahu.
No sábado, o Hamas protestou contra os termos do enviado dos EUA, argumentando que não passavam de uma tática de abrandamento para manter a presença de Israel na Faixa de Gaza e de um “regresso às posições iniciais”, disse o seu porta-voz Hazim Qasem.
O porta-voz apontou também que as negociações sobre a segunda fase estão completamente congeladas, em parte porque o Hamas não tem qualquer intenção de abdicar do seu controlo político ou de segurança no enclave palestiniano, como Israel exige.
O Hamas, por seu turno, alega que é Israel que está a obstruir o processo de diálogo, ao utilizar esta nova trégua unilateral como cobertura para a sua recusa em negociar a retirada das suas forças do enclave antes de quaisquer outras considerações, como denunciou hoje o seu alto funcionário Mahmud Mardawi.
“A única forma de alcançar a estabilidade na região e o regresso dos prisioneiros israelitas é concluir a implementação do acordo de cessar-fogo, começando pela implementação da segunda fase”, afirmou, em declarações ao jornal Filastin, que é próximo do movimento islâmico palestiniano.
Mardawi considerou a trégua israelita durante o Ramadão como nada mais do que uma expressão da recusa de Netanyahu em continuar as negociações numa “manipulação contínua” que “não devolverá os prisioneiros às suas famílias, mas, pelo contrário, levará à continuação do seu sofrimento e colocará as suas vidas em risco, se não houver pressão sobre a ocupação para cumprir as suas obrigações”.
Hamas acusa Israel de "crime de guerra"
O Hamas classificou hoje como "crime de guerra" a decisão de Israel de impedir a entrada de ajuda humanitária em Gaza, considerando que é uma "violação do acordo" de tréguas.
"A decisão de [primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu de suspender a ajuda humanitária é uma chantagem mesquinha, um crime de guerra e uma violação flagrante do acordo" de tréguas, disse o movimento islamita palestiniano, apelando aos "mediadores da comunidade internacional para que pressionem" Israel a recuar nesta decisão.
Também hoje, o Hamas exigiu a implementação da segunda fase do cessar-fogo na Faixa de Gaza, criticando a proposta norte-americana de uma trégua até meados de abril, aceite por Israel.
A primeira fase do cessar-fogo entre Israel e o movimento radical palestiniano Hamas terminou no sábado, sem um acordo sobre uma segunda fase, que deveria levar ao fim definitivo da guerra e à libertação de todos os reféns.