Antigo primeiro-ministro era o trunfo da Direita, mas optou por se afastar da eleição, abrindo portas a Mario Draghi, um dos favoritos ao cargo.
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Quando era jovem, prometeu à mãe que um dia seria presidente de Itália. Agora, com 85 anos e vários problemas de saúde, Silvio Berlusconi, o mais polémico primeiro-ministro de Itália, desistiu da corrida ao cargo de presidente, que se inicia esta segunda-feira, após Sergio Mattarella anunciar que vai sair de cena a 3 de fevereiro.
Depois de ser o candidato eleito pela Direita, o político decidiu deixar de lado a possibilidade de ser presidente da República. O antigo primeiro-ministro, rotulado por se envolver em escândalos sexuais referiu, no sábado, que estava fora da eleição, apesar de considerar que conseguiria apoio suficiente para ser eleito. Embora se sinta "honrado", Berlusconi recusou ser opção porque não quer ser a causa de "polémicas ou lacerações" numa nação ainda a lutar contra a pandemia, acrescentando que espera continuar a ver Mario Draghi como primeiro-ministro.
No anúncio que deu conta da desistência, frisou que vai continuar a "ajudar o país de outras formas", garantindo que trabalharia com Matteo Salvini, do partido Liga Norte (Lega Nord), e Giorgia Meloni, dos Irmãos da Itália, para chegar a um acordo sobre um nome capaz de obter "consenso". Contudo, do outro lado, há um adversário de peso.
Força estabilizadora
Escolhido a dedo como primeiro-ministro após o colapso do Governo italiano, Draghi é uma figura que se caracteriza pelo consenso e agora é desejado por muitos para ocupar o Palácio do Quirinal. Na perspetiva de Marco Lisi, politólogo italiano, este cenário "seria ótimo em vários aspetos, o único inconveniente é a incógnita sobre a liderança do Executivo".
Com o antigo presidente do Banco Central Europeu na presidência do país, iriam abrir-se portas no seio da União Europeia, já que Draghi "conhece bem os mecanismos e os políticos que lideram a instituição". Por outro lado, a possível eleição do atual primeiro-ministro iria trazer inquietação interna, já que o pilar da estabilidade italiana teria de ser substituído, e esta tarefa não seria fácil.
Em contrapartida, há quem não veja com bons olhos a eleição de Draghi. Num artigo publicado no portal do grupo de reflexão independente "Centre for European Reform", o investigador Luigi Scazzieri realça que "ainda há muito a fazer para garantir uma retoma económica robusta no país", sendo que o abandono das funções nesta fase poderia ser catastrófico.
Sem Berlusconi e com múltiplas dúvidas em torno de Draghi, a decisão está sob uma nuvem de incertezas, embora a Imprensa italiana tenha vindo a apresentar outros possíveis candidatos.
No entanto, ao contrário do que acontece em Portugal, em Itália, o método de eleição do presidente consiste numa votação indireta. Segundo Marco Lisi, "quem elege o presidente são os grandes eleitores, neste caso os 630 deputados e os 315 senadores das duas câmaras do Parlamento, aos quais se juntam 58 representantes das regiões".
Negociações em curso
Como dita a Constituição, os eleitores votam em três primeiras voltas, sendo necessária uma maioria de dois terços. A partir da quarta é suficiente uma maioria simples. Apesar das negociações já ocorrerem nos bastidores dos partidos "é muito provável que surjam novos nomes" alerta Lisi, que considera que a decisão será demorada.
Outros nomes de peso
Marta Cartabia: Ministra da Justiça do atual Governo
Aos 58 anos, é uma das ministras mais discretas do Governo de Mario Draghi e pode beneficiar da crescente pressão de várias organizações que apelam pela eleição de uma figura feminina como presidente. A governante já presidiu o Tribunal Constitucional entre 2019 e 2020, tendo sido a primeira mulher a exercer essa função em Itália.
Giuliano Amato: Ex-primeiro-ministro de Itália
Está entre as figuras de maior autoridade na política italiana e o seu nome esteve em cima da mesa nas últimas presidenciais, mas aos 83 continua a ser uma figura de peso. Ocupou o cargo de primeiro-ministro ao longo de dois momentos diferentes da vida política e sempre se integrou em coligações de centro-esquerda.
À lupa
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Eleitores podem participar na eleição. A sede da votação, que ocorre de forma secreta, é a Câmara dos Deputados, onde se reúnem deputados, senadores e representantes das vintes regiões italianas. O presidente inicia o mandato depois de prestar juramento ao parlamento.
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É o número de anos do mandato. Em Itália, o presidente permanece no cargo durante sete anos e não tem um limite máximo de mandatos. Mesmo que as suas funções sejam essencialmente honoríficas, o líder tem um papel fundamental em caso de crise política.